sexta-feira, 23 de outubro de 2015

SORTE OU AZAR?



SORTE OU AZAR?

Muitos reclamam da sorte, ou, mais frequentemente, da falta dela, culpando, muitas vezes, o destino por sua condição.

Há uma expressão árabe que diz “Maktub”, que significa “estava escrito”, no sentido de que as coisas que nos acontecem estavam escritas em nosso destino. Será?

Eu diria que tudo depende da perspectiva com que se olha cada situação; como em um conto da China antiga.(1)

“Em um vilarejo, havia um camponês que tinha um belíssimo e brioso cavalo; os vizinhos o admiravam e diziam:
 - Que sorte você tem de possuir tão belo cavalo!
- Não, sei, não sei... respondia o ajuizado camponês.

Um dia, o cavalo fugiu e todos os vizinhos vieram consola-lo dizendo:
- Lamentamos a má sorte que tenha fugido seu belo cavalo.
- Não sei, não sei... repetia o camponês.

Aconteceu que, no outro dia, o cavalo voltou acompanhado de uma tropa de belos cavalos selvagens.  Logo, todos os vizinhos vieram para felicita-lo pela excelente sorte. Mas ele, imperturbável só repetiu:
- Não sei, não sei...

Um tempo mais tarde, seu filho, domando um dos cavalos selvagens, caiu e quebrou a perna. Os vizinhos correram para consolar o pai, comentando sua má sorte; este, como de costume disse:
- Não sei, não sei...

Pouco tempo depois, teve inicio uma terrível guerra e todos os jovens foram convocados a marchar para a frente de batalha, menos o filho acidentado. Todos disseram:
- Isso sim que é sorte. E o camponês respondeu:
- Não sei, não sei...”

A história mostra a atitude inabalada de um camponês, diante de fatos que ocorrem em sua vida, sejam eles bons ou maus, que não dependem de sorte ou azar, como acreditam os demais moradores da vila. Não se abalando com estes acontecimentos, ele mantém sua estabilidade emocional, não se deixando abater com os revezes, quase sempre passageiros, que o acometem de vez em quando.

Quem, por outro lado, tem uma visão pessimista e acredita que cada acontecimento desfavorável em sua vida é fruto do azar, tem também a tendência de se abalar emocionalmente e ficar se lamentando do ocorrido, em vez de seguir em frente, superando o infortúnio que o acometeu. Muitas vezes, ansiedade e depressão resultam desse hábito.

Os conceitos de “sorte” ou “azar” não passam de superstições ou crendices populares, perpetuadas por pessoas que tem uma visão muito limitada da vida.

Assim da próxima vez que lhe acontecer algo de ruim; bater o carro, por exemplo, não fique se lamentando ou reclamando do azar; pode ser que do outro carro desça aquela pessoa que será o grande amor de sua vida. Na pior das hipóteses, o seguro paga o prejuízo. Mas que seria uma grande sorte, seria.



Referência:


1-      Do livro de Masafumi Sakanashi

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

MARUBASHI



MARUBASHI

Frequentemente tenho vistos nos treinos nos quais participo, que a maioria dos praticantes, mesmo graduados, ficam parados esperando pelo ataque do oponente e só quando este o atinge, inicia a aplicação da técnica. Muito se fala em adiantar-se ao ataque, não deixando o oponente segurar, muitas vezes erguendo o braço instantes antes do contato, tentando, com isso, obter certa vantagem na aplicação da técnica; mas, mesmo assim, permanecem estáticos esperando que o ataque chegue até eles.

Agindo assim, permitimos que o atacante ganhe o controle da situação, pois consegue desferir seu golpe com força máxima, no ponto exato onde havia planejado e, muitas vezes, tirar o equilíbrio do NAGE (aquele que se defende e aplica a técnica).

Pensando nisso, transcrevi um texto a respeito do conceito de MARUBASHI:

“A filosofia que subjaz a essa técnica percebe a vida como uma estreita ponte de tronco lançada sobre um rio de corrente impetuosa. Ao ficar face a face com o inimigo no meio da ponte, não temos escapatória: Recuar, ou mesmo hesitar, significa ser seguido e derribado pela espada; fugir para a direita ou esquerda é cair no rio turbulento. Escolher a vida é morrer.
O único caminho é o caminho do inimigo. Não pode haver separação, mas uma troca de tempo e espaço, com o espírito de avançar para dentro do próprio coração do inimigo. É o espírito do Irimi.
Só pelo desapego ao tempo e ao espaço, à vida, alcançamos a verdadeira liberdade de escolher a morte. A ponte e a vida são a mesma coisa. O céu e o inferno existem agora, a infinitude existe agora. Escolher a morte é viver.”(1)

Esse é um dos conceitos mais importantes do Aikido, mas, lamentavelmente, um dos que eu menos vejo sendo aplicado; avançar na direção do inimigo, assim que ele inicia o ataque, para assim controla-lo.

Eu traço um paralelo com a vida, afinal, para mim os princípios do Akido deveriam ser os mesmos da vida. Quando em seu trabalho, por exemplo, você percebe que está surgindo algum problema, você espera ele crescer e chagar até você, ou logo ao percebê-lo você vai ao seu encontro e o resolve logo.
Assim é a vida, assim é o Aikido.





1-      Desenho e texto do livro:

O Aikido e a Harmonia da Natureza – Mitsug Saotome