COMO NASCEM OS
GUERREIROS?
Antes de
tentar responder a essa pergunta difícil, vale uma pergunta ainda mais difícil:
O que é um guerreiro?
Teria que
discorrer longamente, páginas e mais páginas, para tentar explicar, ainda que superficialmente
o que vem a ser um guerreiro; e ainda assim, não conseguiria defini-lo em sua
essência.
Mas, atendo-se
ao mais básico dos conceitos, ser um guerreiro não significa praticar artes
marciais, ter treinamento militar, ir ou não para a guerra. Ser um guerreiro
depende mais da postura que se assume perante a vida; do modo como se enfrentam
as adversidades, os perigos e, principalmente, a morte.
Ser um guerreiro
é encarar a morte, olhar bem no fundo de seus olhos e desafiá-la; é negar-se a
ser dominado pelo medo; é seguir em frente, quando todos recuam, seja nos
conflitos diários que a vida nos apresenta, seja em uma batalha em uma guerra real.
Algumas
pessoas já nascem guerreiras; são bebês que nascem muito prematuro e fraquinhos,
ou com problemas graves de saúde, com poucas perspectivas de viver; mas que,
mesmo contra todos os diagnósticos desfavoráveis, se agarram à vida e lutam por
ela com uma força descomunal, indo contra todas previsões pessimistas, acabando
por vencer a primeira batalha de suas vidas. Com certeza, crescerão como
guerreiros.
No extremo
oposto, há pessoas que nunca se tornarão guerreiras. Adotam uma atitude passiva,
perante a vida e seus desafios, e nunca juntam coragem suficiente para
enfrenta-los. As vezes passam anos praticando uma arte marcial, na esperança
de, talvez com isso, conseguir enfrentar seus temores; mas não tem coragem de
treinar, de forma séria, um método de defesa pessoal. Normalmente fogem ou
simplesmente paralisam de medo diante da menor situação de perigo.
São casos
extremos. Há sempre o caminho do meio. Porém, no mais das vezes é um caminho
longo e extenuante, pois os verdadeiros guerreiros são forjados a sangue, suor
e lágrimas.
Muitos foram
os caminhos que levaram pessoas simples a se tornarem guerreiros; cito, com
exemplo, um caso especial, de um menino que, cansado de apanhar dos colegas de
escola, aos 14 anos entra em uma academia de Capoeira. Era medroso, mas
resolveu enfrentar a situação, pois esta era insustentável e não podia mais
conviver com a violência dos colegas maiores. A Capoeira, neste tempo, era
bastante violenta e ao entrar na roda para jogar, as chances de se machucar
eram grandes; como realmente ocorreu várias vezes com ele.
No início,
entrar na roda para jogar era um martírio, um momento de grande tensão e medo;
mas, com o tempo e com treinos fortes e pesados, começou a progredir nas
técnicas e encarar aquilo sem receio, sabendo que entraria na roda e poderia
até ser atingido por algum golpe, mas que acertaria vários e que já sabia se
defender.
De tímido e
medroso, tornou-se violento; já não tinha medo de ninguém. Embora não
procurasse briga, não mais fugia de nenhuma, tendo, porém, machucado muita
gente. Estava muito longe de ser um guerreiro, mas tinha vencido algo
importantíssimo: o medo de morrer.
Muitos anos
se passariam até que este menino, já velho, se cansasse dessa situação; sabia
se defender bem, mas era muito agressivo. Mais um tempo se passaria até que
este velhinho encontrasse o Aikido, que daria novo sentido à sua vida,
diminuindo sua agressividade e apresentando um caminho para que ele viesse a se
tornar, um dia, um verdadeiro guerreiro: o Guerreiro da Paz.