MUSUBI
As filosofias orientais, principalmente aquelas baseadas no Taoismo,
identificam duas energias essenciais: Yang e Yin. Uma representa o positivo, a
outra o negativo, uma o macho, a outra a fêmea, o sol e a lua, a força e a
fraqueza, o ativo e o passivo, etc.
Acostumamo-nos a ver essas coisas como sendo opostas, muitas vezes em
conflito entre si. Essas filosofias, porém, nos ensinam que, na verdade, essas
coisas que vemos como opostas são, na realidade, complementares; uma não pode
existir sem a outra; como se fossem os dois lados de uma moeda.
Cada um de nós traz, dentro de si, essas duas energias, em
suas mais variadas formas; podemos usá-las como quisermos, mas o segredo
consiste em não nos apegarmos a apenas a uma delas, tentando desprezar a outra:
ser forte e não fraco, criativo e não destrutivo, ter amor e não ódio. O
segredo consiste em aceitar o fluxo natural e constante de energia, que existe
entre estes dois extremos.
A este fluxo de energia, dá-se o nome de MUSUBI. MUSUBI é o
processo de unificação dos opostos. É energia em movimento, pois sem
movimento, não pode haver união. Seu
símbolo é a espiral, a reciclar perpetuamente a própria energia.
O diagrama Tei-gi, que ilustra esta postagem e é o símbolo do Taoismo, define
bem esta situação: Duas energias opostas, mas equivalentes; continuamente a
girar, em perfeito equilíbrio; com dois pequenos círculos, mostrando que na luz
há sombra e que na escuridão existe luz.
E esse fluxo
de energia está em tudo: Em uma pilha, a energia deve fluir de um polo ao
outro, para fazer funcionar o aparelho que a contém; o coração tem que alternar
entre contração e relaxamento, para que possamos viver. Tudo é fluxo entre Yang
e Yin; tudo é MUSUBI.
Mas, onde
quero realmente chegar é à constatação da existência das energias Yang e Yin no
Aikido. A maioria dos praticantes, embora utilizem um pouco dessas energias,
não o fazem de forma consciente, não usufruindo de todo o poder que este fluxo
de energia - MUSUBI- pode lhes proporcionar.
Vejamos um exemplo: Quando um atacante nos agarra pelo
braço, ele o faz com força; está sendo Yang. Quando recebemos o ataque, devemos
deixar o braço bem flácido, sendo Yin. Com isso, cria-se um fluxo de energia,
pois encontrando um braço flácido, o atacante perde seu ponto de apoio e se
desequilibra, passando imediatamente a ser Yin; neste exato momento, iniciamos
a aplicação da técnica, já como Yang, assumindo o controle do conflito.
Assim MUSUBI, este
fluxo de energia, que passa de Yang a Yin e vice-versa várias vezes, talvez seja
o “sal da terra”, o conceito mais básico e fundamental do Aikido; quase nunca
lembrado, raramente mencionado, nunca ensinado.
Como sempre, o Aikido e a vida são a mesma coisa.
Quantas vezes uma mulher nervosa e irritada -Yang- não
necessita apenas de um marido que a escute – Yin?
Quantas vezes uma filha rebelde e agressiva – Yang – não
necessita apenas de uma família que lhe dê apoio – Yin?
E um amigo triste e deprimido -Yin - talvez necessite
apenas de algumas palavras de conforto e apoio – Yang.
Assim deveria ser nosso Aikido; assim deveria ser nossa
vida.