sexta-feira, 5 de maio de 2017

Em sua profissão, você busca a colaboração de pessoas mais experientes, ou se sente ameaçado por elas?



O REI E O SÁBIO

Em todas as civilizações antigas, seja das tribos nômades de caçadores/coletores aos reinos da idade média, o chefe, o rei, ou o monarca, era quase sempre associado à figura de um sábio ou mago (alguém que buscava soluções por meio do autoconhecimento). Arthur e Merlin são os estereótipos mais conhecidos desta ligação1; mas mesmo em povos mais primitivos, a figura de um xamã era sempre associada ao conhecimento e sabedoria, a quem o chefe do grupo recorria em situações de crise.

Ao sábio cabia, usando de seus conhecimentos, inteligência e experiência, aconselhar o rei em suas decisões mais difíceis, para que estas resultassem sempre em êxito, garantindo o prestígio do rei e a segurança do reino, que acabava por resolver os conflitos, obtendo a paz.

Em épocas mais modernas, os reis, ou governantes, começaram a deixar de lado a figura do sábio, passando a ser assessorados por outras pessoas e tentando desempenhar, eles próprios, o papel de combatente, protetor, ou disciplinador moral.

Um exemplo bem atual disso são os Estados Unidos, onde o presidente é assistido por um general ou almirante, não havendo mais lugar para a sabedoria de um pacificador.

Muito deve ter contribuído para este descrédito em conselheiros e sábios, a figura de Grigoriy Yefimovich Rasputin, que lá pelos idos de 1900, ganhou fama junto à Corte Russa, aproximando-se da família do Czar Nicolau II e sua esposa, Alexandra Feodorovna; primeiro como curandeiro, depois como conselheiro pessoal da Czarina, se valendo desse privilégio para obter proveitos pessoais inimagináveis, acabando, por este motivo, por ser assassinado pela nobreza russa.

Com o tempo, esta prática de ser assessorado por alguém com muito conhecimento e sabedoria, deixou de ser restrito somente a reis e governantes. Toda e qualquer pessoa que exercesse uma função importante, poderia se beneficiar, tendo ao seu lado alguém com muito conhecimento e experiência. O poder, aliado à sabedoria, tornar-se-ia uma força invencível.

O que se viu, porém, na maioria dos casos, foi exatamente o oposto: de repente, por medo, insegurança, ou não sei mais o que, a maioria dos que assumiam uma função de comando, fossem eles Diretores, Chefes, Treinadores, Instrutores, etc., passavam a se isolar, preferindo fazer um trabalho de qualidade muito inferior, a correrem o risco de serem ameaçados por uma pessoa de grande sabedoria, que poderia vir a ofuscar os seus feitos.

É mais ou menos como um ditado de Arthur Schopenhauser: Os medíocres, assim como as luzes, necessitam da escuridão para brilhar”.

A sabedoria passou de uma poderosa aliada, a uma grande ameaça. A ideia passou a ser: se ele sabe mais do que eu, ele pode vir a tomar o meu lugar. O melhor e mais seguro é mantê-lo afastado.

De repente, o sábio passou a ser visto como um perigoso vilão; uma figura a ser evitada a qualquer custo.

Com isso, profissionais que até contavam com um bom potencial, por pura insegurança, começaram a se aliar e ser assessorados por pessoas medíocres, passando, logicamente, a obter resultados igualmente medíocres, nunca conseguindo atingir as metas almejadas.

A continuar esta mentalidade, não tardará o tempo em que esses novos “bruxos” voltarão a ser perseguidos e condenados à fogueira, pelo risco que oferecem, como já ocorreu em épocas passadas; que o diga Galileu Galilei.

Acha exagero? Então basta se lembrar de Pol Pot, que liderou o Khmer Vermelho, governo comunista instalado no Camboja que, a partir de 1975, matou mais de 7 milhões de cambojanos. Foi considerado um dos maiores genocídio do século XX.

Pol Pot rejeitava os “ideais capitalistas” e concluiu que apenas as crianças ainda não haviam sido contaminadas por eles; desta forma, passou a eliminar toda e qualquer pessoa que detivesse um mínimo de cultura, restando apenas as crianças e os camponeses mais simplórios.

Com isso, passo, cada vez mais, a entender o sentido de uma frase, de autoria de Edmund Burke, escrita na entrada do famigerado campo de concentração de Auschwitz: “Quem não conhece a história está condenado a repetir seus erros”.




1- Philip Dunn