O REI E O SÁBIO
Em todas as
civilizações antigas, seja das tribos nômades de caçadores/coletores aos reinos
da idade média, o chefe, o rei, ou o monarca, era quase sempre associado à
figura de um sábio ou mago (alguém que buscava soluções por meio do autoconhecimento).
Arthur e Merlin são os estereótipos mais conhecidos desta ligação1;
mas mesmo em povos mais primitivos, a figura de um xamã era sempre associada ao
conhecimento e sabedoria, a quem o chefe do grupo recorria em situações de
crise.
Ao sábio cabia,
usando de seus conhecimentos, inteligência e experiência, aconselhar o rei em
suas decisões mais difíceis, para que estas resultassem sempre em êxito,
garantindo o prestígio do rei e a segurança do reino, que acabava por resolver os
conflitos, obtendo a paz.
Em épocas
mais modernas, os reis, ou governantes, começaram a deixar de lado a figura do
sábio, passando a ser assessorados por outras pessoas e tentando desempenhar,
eles próprios, o papel de combatente, protetor, ou disciplinador moral.
Um exemplo
bem atual disso são os Estados Unidos, onde o presidente é assistido por um
general ou almirante, não havendo mais lugar para a sabedoria de um
pacificador.
Muito deve
ter contribuído para este descrédito em conselheiros e sábios, a figura de Grigoriy Yefimovich Rasputin, que lá
pelos idos de 1900, ganhou fama junto à Corte Russa, aproximando-se da família
do Czar Nicolau II e sua esposa, Alexandra Feodorovna; primeiro como
curandeiro, depois como conselheiro pessoal da Czarina, se valendo desse
privilégio para obter proveitos pessoais inimagináveis, acabando, por este
motivo, por ser assassinado pela nobreza russa.
Com o tempo, esta
prática de ser assessorado por alguém com muito conhecimento e sabedoria, deixou
de ser restrito somente a reis e governantes. Toda e qualquer pessoa que
exercesse uma função importante, poderia se beneficiar, tendo ao seu lado
alguém com muito conhecimento e experiência. O poder, aliado à sabedoria, tornar-se-ia
uma força invencível.
O que se viu,
porém, na maioria dos casos, foi exatamente o oposto: de repente, por medo,
insegurança, ou não sei mais o que, a maioria dos que assumiam uma função de
comando, fossem eles Diretores, Chefes, Treinadores, Instrutores, etc., passavam
a se isolar, preferindo fazer um trabalho de qualidade muito inferior, a correrem
o risco de serem ameaçados por uma pessoa de grande sabedoria, que poderia vir
a ofuscar os seus feitos.
É mais ou
menos como um ditado de Arthur Schopenhauser: “Os medíocres, assim como as luzes,
necessitam da escuridão para brilhar”.
A sabedoria passou
de uma poderosa aliada, a uma grande ameaça. A ideia passou a ser: se ele sabe
mais do que eu, ele pode vir a tomar o meu lugar. O melhor e mais seguro é mantê-lo
afastado.
De repente, o
sábio passou a ser visto como um perigoso vilão; uma figura a ser evitada a
qualquer custo.
Com isso, profissionais
que até contavam com um bom potencial, por pura insegurança, começaram a se
aliar e ser assessorados por pessoas medíocres, passando, logicamente, a obter
resultados igualmente medíocres, nunca conseguindo atingir as metas almejadas.
A continuar
esta mentalidade, não tardará o tempo em que esses novos “bruxos” voltarão a
ser perseguidos e condenados à fogueira, pelo risco que oferecem, como já ocorreu
em épocas passadas; que o diga Galileu Galilei.
Acha exagero?
Então basta se lembrar de Pol Pot, que liderou o Khmer Vermelho, governo comunista
instalado no Camboja que, a partir de 1975, matou mais de 7 milhões de
cambojanos. Foi considerado um dos maiores genocídio do século XX.
Pol Pot rejeitava
os “ideais capitalistas” e concluiu que apenas as crianças ainda não haviam
sido contaminadas por eles; desta forma, passou a eliminar toda e qualquer
pessoa que detivesse um mínimo de cultura, restando apenas as crianças e os camponeses
mais simplórios.
Com isso, passo,
cada vez mais, a entender o sentido de uma frase, de autoria de Edmund Burke,
escrita na entrada do famigerado campo de concentração de Auschwitz: “Quem
não conhece a história está condenado a repetir seus erros”.
1- Philip Dunn