sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O QUE VALE MAIS? FORÇA OU INTELIGÊNCIA?



AQUILES e ODISSEU

Segundo a Ilíada, a lenda de Homero que narra a guerra de Troia, Aquiles foi o maior guerreiro que lutou pelos gregos; seus feitos bélicos e suas conquista nos campos de batalha foram memoráveis; nos combates era invencível.

Aquiles era o filho da nereida Tétis e de Peleu, rei dos mirmidões. Tétis era uma deidade, filha de Nereu, um velho deus do mar.

Quando Aquiles nasceu, Tétis o mergulhou no místico rio Estige, que separava o mundo dos vivos do mundo subterrâneo dos mortos, do deus Hades, a fim de torná-lo invulnerável; contudo, ao fazê-lo, segurou-o pelos calcanhares, sendo estas as únicas partes que  não tocaram as água do rio, ficando vulneráveis (daí vem a expressão “calcanhar de Aquiles”, para designar um ponto de fragilidade).

Até as armas de Aquiles eram especiais; a armadura, o escudo e a lança, haviam sido forjadas pelo próprio Hefesto, deus ferreiro do Olimpo, sendo, por este motivo, invejadas por todos.
Apesar de tudo, Aquiles não conseguiu conquistar a cidade de Troia, sendo morto por Páris, com uma flecha envenenada que atingiu seu calcanhar.

Após sua morte, Agamenon, Rei de Micenas, que liderava os gregos na guerra, prometeu que entregaria as armas de Aquiles ao guerreiro que fosse mais temido pelos inimigos; para tanto, mandou que seus espiões sondassem os soldados de Troia e interrogou também os prisioneiros.

             Todos foram unânimes em afirmar que o que mais eles temiam eram a inteligência e a astúcia de Odisseu (também conhecido como Ulisses).

Odisseu não era um grande guerreiro; nunca se destacou nos campos e batalha; mas pôs fim a uma guerra que já durava 10 anos.

         Foi dele a ideia da construção de um cavalo de madeira, dentro do qual se esconderam guerreiros gregos; ele foi deixado na praia, como presente aos troianos, que o levaram para dentro da cidade. À noite, os guerreiros saíram de dentro do cavalo e abriram os portões da cidade, para a entrada dos soldados gregos, que derrotaram Troia.

             Assim, a lenda mostra que não foi o maior dos guerreiros que venceu a guerra de Troia, mas sim o mais inteligente e astuto. É um belo exemplo de como uso da inteligência pode ser muito melhor e mais eficiente do que o da força.

sábado, 17 de agosto de 2019

O CANTO DAS SEREIAS



O canto das Sereias

– Venha! Venha a nós! Odisseu tão glorioso! Honra dos aqueus! Pare teu barco: Venha escutar nossa voz! Jamais um negro barco dobrou nosso cabo sem ouvir o doce ar que sai de nossos lábios... 
(A Odisséia - Homero).

Assim cantavam as sereias, em algum lugar do Mar Tirreno, cercado de rochas e recifes, entre a ilha de Capri e a costa da Itália, de localização variável de acordo com a versão do mito.

Depois da guerra de Troia, Odisseu (também conhecido como Ulisses), em sua viagem de volta para casa, em Ítaca, teve que parar na ilha de  Eana, habitada pela feiticeira Circe, onde permaneceu por algum tempo.

Antes de partir para continuar sua viagem, Circe lhe alertou sobre os perigos que ele encontraria ao passar pela ilha das sereias.

As sereias, seres mitológicos, metade peixe, metade belas mulheres, habitavam pequenas ilhas rochosas do mar Mediterrâneo. Eram tão lindas e cantavam com tanta doçura que atraíam os tripulantes dos navios que passavam por ali; elas tinham, na verdade, o poder de enfeitiçar, com seu doce e maravilhoso canto, todos que o ouvissem, de modo que os infortunados marinheiros, ao fazê-lo, não conseguiam resistir e se atiravam ao mar, onde elas os afogavam.

Odisseu, o mais astuto e inteligente guerreiro que lutou contra Tróia, era também dotado de extrema curiosidade, querendo a qualquer custo ouvir o canto das sereias.

Depois de muito pensar, decidiu encher os ouvidos de seus remadores com cera, para que não fossem enfeitiçados pelo canto e ordenou que o amarrassem fortemente a um mastro, para ouvi-lo em segurança. Odisseu enlouqueceu ao ouvir o canto das sereias, mas como estava preso, sobreviveu à maravilhosa experiência.

Assim contava a lenda de Homero na Grécia antiga.

É uma bela história e talvez dela possamos tirar muitas e preciosas lições.

Por que os homens se atiravam para a morte, depois de ouvir tal canto? Queriam morrer? Certamente que não!

Na verdade ao ouvir tão doce canto, vindo de tão belas mulheres, com certeza os marinheiros deviam criar uma expectativa de que, ao se lançarem a elas, teriam prazeres inimagináveis.

Se pensarmos bem, todos nós temos uma tendência de criar expectativas a respeito de muitas coisas, no mais das vezes nos decepcionando amargamente quando elas não acontecem.

Vamos imaginar um exemplo:

Vamos supor que, em seu emprego, onde está há bastante tempo, você é muito dedicado e desenvolve um excelente trabalho. Um dia, ouve a notícia de que alguém vai ser promovido na empresa; um cargo melhor, maiores salários, etc.

Você logo imagina:

- Hum, talvez seja eu; afinal sou bem antigo na empresa e muito dedicado.

Em seguida começa a imaginar como seria bom ocupar aquele novo cargo; mais status na empresa, o conforto que lhe traria um salário mais alto, o orgulho que sentiria de si mesmo, etc.

Com o passar dos dias, a ideia começa a ganhar corpo; você não consegue parar de pensar no assunto e, cada vez mais, passa a acreditar que só pode ser você; sua expectativa começa a aumenta muito.

Um belo dia você recebe, com surpresa, a notícia que um novato, não tão esforçado, é promovido para o tão sonhado cargo.

A notícia, fulminante, cai como um raio; de repente todos os seus planos desabam, seu sonhos se evaporam.

Você se decepciona profundamente, fica desolado, desmotivado para o trabalho; passa a se dedicar e a desempenhar cada vez menos; começa a faltar no trabalho, até que acaba por ser demitido.

Você criou uma grande expectativa sobre algo que, no final, nunca aconteceu.

E por quem deveria acontecer? A expectativa nada mais é do que o fruto de nossa imaginação; o modo como gostaríamos que as coisas acontecessem; mas no fim, a realidade é sempre outra.

Eu costumo dizer que, neste caso, ouvimos “o canto das sereias”; criamos uma grande expectativa em cima de um sonho, uma ilusão, que tinha pouquíssima chance de se concretizar; que no final acabou por nos causar um grande sofrimento, podendo até mesmo nos destruir.

Então para que ouvir o “canto das sereias”?

Se você espera ou deseja alguma coisa, não crie falsas expectativas (até porque as verdadeiras não existem), tenha paciência, espere pelos acontecimentos e veja o que realmente acontece; se algo de bom ou de ruim.

De alguma forma, como na lenda, “encha os ouvidos de cera”, ou então, esteja fortemente preso à única coisa realmente segura, à realidade.

Agindo desta forma, podemos nos poupar de uma grande e certeira desilusão.

Pense nisso.