sábado, 3 de setembro de 2022


 

AS 7 VIRTUDES DO BUDO

 

 

BUDO é uma palavra composta pelo termo “BU”, que significa guerra ou arte marcial, e por “DO”, que significa “caminho”, no sentido de um modo de viver ou de se comportar, visando o aprimoramento pessoal e espiritual, na busca pelo SATORI, a iluminação.

Então BUDO seria a busca deste aprimoramento pessoal e espiritual através da prática de uma arte marcial.

Eu costumo chamar o praticante de artes marciais, que segue os conceitos do BUDO, de Guerreiros da Paz.

Ao conceito de BUDO, são atribuídas 7 virtudes, sendo elas:

 

 JIM – Benevolência

GI – Honra ou Justiça

REI - Cortesia e Etiqueta

CHI – sabedoria, inteligência

SHIN – Sinceridade

CHU – Lealdade

KOH - Piedade

 

 Em relação ao praticante de AIKIDO, podemos entender como:

 JIM - Benevolência – o seguidor do BUDO demonstra bondade ou boa vontade em relação a outras pessoas, revelando altruísmo e empatia;

 GI - Honra ou Justiçatem uma conduta proba, virtuosa, corajosa que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade; é justo em suas ações;

 REI - Cortesia e Etiqueta – trata os outros com educação, sendo amável e polido;

 CHI sabedoria, inteligência - com um conhecimento extenso e profundo, está sempre aprendendo e se adaptando a novas situações;

 SHINSinceridade – o Guerreiro da Paz adota sempre uma conduta franca, verdadeira e leal, dizendo sempre o que realmente pensa ou sente, mesmo sabendo que isso pode trazer prejuízos;

 CHULealdade – sempre fiel a seus princípios, tem na gratidão (GIRI) e no companheirismo sua maior virtude; dedicado a seu DOJO e seus SENSEIS, é confiável e honra seus compromissos;

 KOHPiedade – em situações de confronto, tem plena consciência de que não precisa vencer ou destruir o oponente, mas pura e simplesmente interromper o conflito e exigir a paz.

 Não por coincidência, nosso HAKAMA possui 7 pregas, que representam esta 7 virtudes do BUDO. Talvez só o possamos usar a partir da faixa preta (SHODAN), porque só então, após anos de dedicação e treinamento, começamos a nos familiarizar com esses conceitos; a partir deste ponto, contudo, passamos nos aprofundando em seus conceitos cada vez mais.

 

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

 

A PERVERSÃO DA IGREJA CATÓLICA

 

Não é minha intenção, aqui, criticar ou questionar a crença, os dogmas ou doutrinas do Cristianismo; as mensagens e os ensinamentos de Jesus Cristo sempre foram sagrados e nortearam a vida de milhões de pessoas, dando-lhes amparo, conforto e, muitas vezes, um sentido na vida.

Minha questão é com a entidade que se apoderou desta religião, usando-a como o mais perfeito modo de dominação; tornando-se uma das mais perniciosas instituições; dominadora, cruel, rica e poderosa: a Igreja Católica.

Mas vamos ao começo: quando Jesus nasceu, toda a Judeia (atual Palestina) padecia sob a ocupação do Império Romano havia pouco mais de 63 anos.

Era comum na época, pessoas descontentes com essa ocupação juntarem alguns seguidores para protestar contra a dominação romana. E foi assim também com Jesus. Suas mensagens espalharam-se rapidamente por toda a Palestina e seus seguidores passaram a ser implacavelmente perseguidos.

Após sua crucificação, a perseguição aos seguidores, já chamados de cristãos, se intensificou bastante; não só pelos romanos, mas agora pelos próprios judeus, que não aceitava a ideia de Jesus como o novo Messias e acusavam seus seguidores de heresia e traição às leis de Moisés.

O cristianismo começou a ser deturpado por Paulo (mais tarde São Paulo), antigo perseguidor de cristãos, que acabou se convertendo à nova religião no ano 70 d.C. (37 anos após a crucificação). Segundo consta, após a conversão, ele teria escrito os evangelhos atribuídos Mateus e Marcos e depois, o atribuído a João e dado início, também, à doutrina da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).

Como se vê, grande parte da doutrina do Cristianismo foi mais uma interpretação dada por Paulo, muitos anos após a ocorrência dos fatos, do que realmente a palavra de Jesus, transmitidas pelas escrituras de seus apóstolos.

Naquela época, diversas interpretações da doutrina cristã e outras religiões pagãs se faziam presentes no Império Romano; os romanos, no entanto, não aceitavam a ideia da existência de um só Deus; por isso os cristãos continuaram a ser perseguidos em Roma.

A perseguição aos cristãos encerrou-se a partir de 313 com o Édito de Milão, assinado pelo imperador Constantino, que se converteu à nova religião. 

Até aqui tudo bem, o Cristianismo era mais uma religião que arregimentava cada vez mais seguidores e espalhava sua fé.

Foi através do Concílio de Niceia, em 325, que se assentaram as bases religiosas e ideológicas da Igreja Católica Apostólica Romana.

Após as invasões dos povos germânicos (bárbaros) e com a crescente crise e decadência do Império Romano, a Igreja Católica aliou-se aos bárbaros, cristianizando-os, e assim, dominou e conquistou os vastos territórios ocidentais do Império Romano.

Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa ocidental.

Ajudou muito a prática da “venda de indulgências”, através da qual todo e qualquer pecado poderia ser perdoado por Deus; bastava, para isso, uma generosa doação do pecador à igreja, normalmente efetuado em ouro ou em terras; isto tornou a Igreja Católica uma das instituições mais ricas do mundo. Outra prática comum era acusar alguém de heresia, apenas para confiscar suas terras.

Através da centralização de seus princípios e da formulação de uma estrutura hierárquica, a Igreja teve condições suficientes para alargar o seu campo de influências durante a Idade Média, tendo papel preponderante na formação do feudalismo; além de grande proprietária de terras, estruturou a visão de mundo do homem medieval, tornando-se a instituição mais poderosa da época.

Difundiu a ideia do temor a Deus, do pecado, da culpa, das agruras do inferno, onde os pecadores queimariam por toda a eternidade; novamente o medo era a forma da Igreja Católica manter seu poder. Quase tudo era considerado pecado.

A fim de manter esse poder, a Igreja Católica necessitava manter-se sempre bem informada a respeito dos acontecimentos locais, visando precaver-se contra surpresas ou infortúnios; pensando nisso, no ano de 1215, durante o IV Concílio de Latrão, foi instituída a confissão obrigatória dos pecados; confessando seus pecados a um sacerdote, esses poderiam ser perdoados por Deus, mediante o cumprimento de certas penitências.

Se hoje os segredos das confissões são invioláveis, na idade media tornou-se a mais perfeita fonte de informações que se poderia ter.

A partir daí, a Igreja Católica começou a impor sua ideologia de forma cruel e truculenta; bastava discordar de seus dogmas, para ser considerado herege.

As pessoas acusadas de heresias eram interrogadas por membros do clero, podendo ser torturadas e queimadas em fogueiras. A Santa Inquisição foi estabelecida para a efetivação do poder político da Igreja Católica; as pessoas que questionassem a fé católica eram consideradas hereges. Com essas justificativas os não católicos eram julgados pelo Tribunal do Santo Ofício, que torturaram e mataram um grande número de pessoas; os que não morriam pelas torturas, acabavam na fogueira.

A Igreja Católica não só matava, mas o fazia de forma cruel, causando o maior sofrimento possível.

No universo medieval a Igreja Católica também monopolizava o conhecimento e a ciência, dominando o campo do saber, das ciências e dos estudos filosóficos; tudo só era aceito, conforme as escrituras bíblicas.

Giordano Bruno, teólogofilósofo, escritor e matemático, foi condenado por discordar dos conceitos científicos ditados pelo clero; foi queimado na fogueira no ano de 1600.

 Em 1633, o astrônomo Galileu Galilei, considerado por muitos o criador do método científico, recebia sua sentença frente a um tribunal da Inquisição, por defender a ideia do heliocentrismo, modelo desenvolvido por Nicolau Copérnico, pouco mais de um século antes. Para não morrer na fogueira, Galileu teve que renegar, publicamente, suas ideias, sendo, mesmo assim, condenado à prisão domiciliar, além de ter sua obra “Diálogo”, incluída no Índice de Livros Proibidos do Vaticano.

Na idade média a igreja determinava o que poderia ou não ser lido; todo o conhecimento que destoava da interpretação bíblica, era considerado como herege e queimado; uma forma de bloquear o conhecimento da população.

Tudo o que se sabe hoje a respeito da cultura clássica dos povos antigos, devemos, quem diria, aos perseguidos muçulmanos, que a preservaram e a transmitiram em suas universidades no oriente médio.

A Igreja Católica começou também a considerar que o catolicismo era a única religião que poderia existir, iniciando a ideia da necessidade da conversão de povos de outras crenças ao catolicismo; isso deu origem aos maiores derramamentos de sangue da história, tudo em nome da fé.

A partir de 1095, após convocação do papa Urbano II, a Igreja Católica iniciou um movimento militar chamado de “Cruzadas para conquistar Jerusalém, o Santo Sepulcro e qualquer outro local na Palestina considerado sagrado, que estava sob o controle muçulmano.

Para justificar as Cruzadas, foi desenvolvido o conceito de Guerra Justa, que afirmava que a guerra era aceitável se fosse realizada contra os pagãos – nesse caso, os muçulmanos. Milhares de inocentes, mulheres e crianças, foram mortos em função disso.

Ao todo foram realizadas oito cruzadas ao longo de mais de cem anos.

Outra grande crise ocorreu devido ao aparecimento da peste; a peste bubônica, ou peste negra, foi um dos maiores flagelos da idade média; só na Europa, 1/3 da população foi dizimada. Uma grande parcela de culpa, pelo elevado número de mortos, pode ser atribuído à Igreja Católica. Na época, a figura de curandeiros, xamãs ou mulheres atraentes eram associadas, pelo clero, a demônios e bruxas, que enfeitiçavam os homens; havia também a crença de que os gatos eram parceiros das bruxas, a própria personificação do demônio; em função disso, foram também caçados sem piedade; isso fez com que a população de ratos aumentasse consideravelmente, estimulando a disseminação da peste, que era transmitida pelas pulgas dos roedores.

Voltando ao campo das ciências, para a igreja, a Terra era considerada plana, por uma aparente contradição com interpretações literais de algumas passagens bíblicas; por esse motivo, alardeavam que quem se aventurasse a navegar por mares desconhecidos, estava fadado a despencar pela borda da Terra, tendo um fim horrível. Terríveis monstros marinhos, também eram descritos pela igreja.

Isto fez com que as grandes navegações e descobertas sofressem um grande atraso, prejudicando enormemente a descoberta de novas terras, o comércio e, consequentemente,  o desenvolvimento econômico. No ano de 1021 (471 anos antes de Cristovão Colombo), o viking Leif Eriksson liderou uma expedição com 35 homens, chegando à região da Terra Nova, atual Canadá; entre 1405 e 1433 (87 anos ante de Colombo), o chinês Zheng He, com a maior frota do mundo na época, navegou sete vezes para o Sudeste Asiático e Oceano Índico, podendo ter chegado às Américas.

Finalmente, com o início das grandes navegações, no final do século XV, a ideia da Igreja Católica da conversão, ou evangelização dos povos pagãos (afinal, só o Catolicismo era a verdadeira religião) ganhou força; em todos os territórios conquistados, a nova religião era imposta à força; várias culturas ao redor do mundo  tiveram suas crenças, costumes e modos de vida destruídos, todo em nome da propagação da fé da Igreja Católica.

E as mazelas da Igreja Católica não param de vir à tona: escândalos financeiros; escabrosos casos de pedofilia, que durante muito tempo foram vergonhosamente omitidos.

No auge da epidemia da AIDS, a Igreja Católica se manifestou veemente contra o uso de preservativos, a forma mais eficaz de prevenir a doença; o Vaticano manifestou, recentemente, ser contrario a união homossexual; enfim, são muitas as ideias tacanhas e retrógradas desta instituição que se valeu de uma fé, para exercer seu poder perverso e controlador.

O mais inacreditável é como os ensinamentos de Jesus, de paz, de amor, serenidade, igualdade e harmonia entre os homens, se transformaram no que foi e no que é hoje a Igreja Católica; e como ela continua arregimentando tantos seguidores pelo mundo.


segunda-feira, 11 de julho de 2022


 

BUDO X BUSHIDO

 

 Muita gente confunde os conceitos de BUDO, com os do BUSHIDO.

Certa vez, no antigo DOJO em que treinava, surgiu um pequeno grupo de alunos com ares de “intelectuais”, dizendo que se dedicavam ao estudo do BUSHIDO, o código de conduta, não escrito, dos antigos Samurais; a princípio pareceu estranho, um grupo que se dedicava ao estudo deste tema, se matricular em um DOJO de artes marciais. A minha dúvida só se desfez quando um deles, com um ar de grande conhecedor do tema, tentou puxar assunto, me perguntado sobre qual era o BUSHIDO do AIKIDO; aí tive absoluta certeza de que eles não faziam a menor ideia do que estavam falando.

O BUDO é um conceito oriental muito antigo; muitos interpretam o termo “BU” com o significado de guerra ou marcialidade; já o termo “DO”, significa “caminho” e está presente em várias artes marciais, tais como AIKIDO, JUDO, KENDO, etc.; então “BUDO” em tradução livre seria “o caminho da marcialidade.”

Na Ásia antiga, o termo “BU” significava “deter o perigo da lâmina que golpeia”.

Mitsug Saotome, em seu livro “ O Aikido e a Harmonia da Natureza” escreve:  “adestrar-se no BUDO é estudar a realidade, a vida e a morte, e buscar a força espiritual necessária com a qual enfrentar essa realidade.”

Eu prefiro entender o conceito do BUDO como sendo um caminho para a busca de um aprimoramento pessoas e espiritual, através da prática de uma arte marcial.

Já para entendermos o BUSHIDO, precisamos entender os Samurais, desde a sua origem; um Samurai não surgiu pronto; no início algum lavrador teve que trocar sua enxada pela espada, a fim de defender seu clã ou povoado de bandidos ou salteadores que infestavam a região. Com o passar do tempo, alguns desses antigos camponeses começaram a se sobressair nos campos de batalha, devido a suas técnicas de luta; eles então fundaram escolas e passaram a ensinar a outros lutadores essas técnicas. Não tardou a surgir a classe dos grandes guerreiros, que eram os Samurais.

No Japão feudal, os Daimiôs (grandes proprietários de terras) passaram a agrupar grandes exércitos de Samurais, utilizando-os em suas batalhas contra clãs vizinhos, lutando pela supremacia de poder. Essa situação perdurou por séculos, com cada Daimiô tentando, através da guerra, tornar-se o Shogun (chefe militar supremo).

Nesta época, cada Samurai sabia exatamente quais eram suas obrigações, como guerreiro e como membro da sociedade, não necessitando nenhum “código de conduta” para isso.

Ocorre que no ano de 1.600, na famosa batalha de Sekigahara, Tokugawa Ieyasu, venceu e tornou-se um poderoso Shogun, instaurando no Japão uma paz entre os vários clãs, que perdurou por cerca de 250 anos.

Embora fizessem parte da elite da sociedade, sem as guerras os Samurais praticamente perderam suas funções; muitos assumiram funções administrativas, muitos caíram no alcoolismo, mas não deixaram de ser Samurais.

Ao longo das gerações, sem guerras a serem travadas, os princípios e valores dos Guerreiros Samurais começaram a se diluir, a perder o sentido; para evitar que toda esta tradição se perdesse permanentemente, foi criado o BUSHIDO, um Código de Conduta, que era passado oralmente, de geração em geração, a fim de manter vivas estas tradições.