segunda-feira, 11 de julho de 2022


 

BUDO X BUSHIDO

 

 Muita gente confunde os conceitos de BUDO, com os do BUSHIDO.

Certa vez, no antigo DOJO em que treinava, surgiu um pequeno grupo de alunos com ares de “intelectuais”, dizendo que se dedicavam ao estudo do BUSHIDO, o código de conduta, não escrito, dos antigos Samurais; a princípio pareceu estranho, um grupo que se dedicava ao estudo deste tema, se matricular em um DOJO de artes marciais. A minha dúvida só se desfez quando um deles, com um ar de grande conhecedor do tema, tentou puxar assunto, me perguntado sobre qual era o BUSHIDO do AIKIDO; aí tive absoluta certeza de que eles não faziam a menor ideia do que estavam falando.

O BUDO é um conceito oriental muito antigo; muitos interpretam o termo “BU” com o significado de guerra ou marcialidade; já o termo “DO”, significa “caminho” e está presente em várias artes marciais, tais como AIKIDO, JUDO, KENDO, etc.; então “BUDO” em tradução livre seria “o caminho da marcialidade.”

Na Ásia antiga, o termo “BU” significava “deter o perigo da lâmina que golpeia”.

Mitsug Saotome, em seu livro “ O Aikido e a Harmonia da Natureza” escreve:  “adestrar-se no BUDO é estudar a realidade, a vida e a morte, e buscar a força espiritual necessária com a qual enfrentar essa realidade.”

Eu prefiro entender o conceito do BUDO como sendo um caminho para a busca de um aprimoramento pessoas e espiritual, através da prática de uma arte marcial.

Já para entendermos o BUSHIDO, precisamos entender os Samurais, desde a sua origem; um Samurai não surgiu pronto; no início algum lavrador teve que trocar sua enxada pela espada, a fim de defender seu clã ou povoado de bandidos ou salteadores que infestavam a região. Com o passar do tempo, alguns desses antigos camponeses começaram a se sobressair nos campos de batalha, devido a suas técnicas de luta; eles então fundaram escolas e passaram a ensinar a outros lutadores essas técnicas. Não tardou a surgir a classe dos grandes guerreiros, que eram os Samurais.

No Japão feudal, os Daimiôs (grandes proprietários de terras) passaram a agrupar grandes exércitos de Samurais, utilizando-os em suas batalhas contra clãs vizinhos, lutando pela supremacia de poder. Essa situação perdurou por séculos, com cada Daimiô tentando, através da guerra, tornar-se o Shogun (chefe militar supremo).

Nesta época, cada Samurai sabia exatamente quais eram suas obrigações, como guerreiro e como membro da sociedade, não necessitando nenhum “código de conduta” para isso.

Ocorre que no ano de 1.600, na famosa batalha de Sekigahara, Tokugawa Ieyasu, venceu e tornou-se um poderoso Shogun, instaurando no Japão uma paz entre os vários clãs, que perdurou por cerca de 250 anos.

Embora fizessem parte da elite da sociedade, sem as guerras os Samurais praticamente perderam suas funções; muitos assumiram funções administrativas, muitos caíram no alcoolismo, mas não deixaram de ser Samurais.

Ao longo das gerações, sem guerras a serem travadas, os princípios e valores dos Guerreiros Samurais começaram a se diluir, a perder o sentido; para evitar que toda esta tradição se perdesse permanentemente, foi criado o BUSHIDO, um Código de Conduta, que era passado oralmente, de geração em geração, a fim de manter vivas estas tradições.