quinta-feira, 18 de agosto de 2022

 

A PERVERSÃO DA IGREJA CATÓLICA

 

Não é minha intenção, aqui, criticar ou questionar a crença, os dogmas ou doutrinas do Cristianismo; as mensagens e os ensinamentos de Jesus Cristo sempre foram sagrados e nortearam a vida de milhões de pessoas, dando-lhes amparo, conforto e, muitas vezes, um sentido na vida.

Minha questão é com a entidade que se apoderou desta religião, usando-a como o mais perfeito modo de dominação; tornando-se uma das mais perniciosas instituições; dominadora, cruel, rica e poderosa: a Igreja Católica.

Mas vamos ao começo: quando Jesus nasceu, toda a Judeia (atual Palestina) padecia sob a ocupação do Império Romano havia pouco mais de 63 anos.

Era comum na época, pessoas descontentes com essa ocupação juntarem alguns seguidores para protestar contra a dominação romana. E foi assim também com Jesus. Suas mensagens espalharam-se rapidamente por toda a Palestina e seus seguidores passaram a ser implacavelmente perseguidos.

Após sua crucificação, a perseguição aos seguidores, já chamados de cristãos, se intensificou bastante; não só pelos romanos, mas agora pelos próprios judeus, que não aceitava a ideia de Jesus como o novo Messias e acusavam seus seguidores de heresia e traição às leis de Moisés.

O cristianismo começou a ser deturpado por Paulo (mais tarde São Paulo), antigo perseguidor de cristãos, que acabou se convertendo à nova religião no ano 70 d.C. (37 anos após a crucificação). Segundo consta, após a conversão, ele teria escrito os evangelhos atribuídos Mateus e Marcos e depois, o atribuído a João e dado início, também, à doutrina da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).

Como se vê, grande parte da doutrina do Cristianismo foi mais uma interpretação dada por Paulo, muitos anos após a ocorrência dos fatos, do que realmente a palavra de Jesus, transmitidas pelas escrituras de seus apóstolos.

Naquela época, diversas interpretações da doutrina cristã e outras religiões pagãs se faziam presentes no Império Romano; os romanos, no entanto, não aceitavam a ideia da existência de um só Deus; por isso os cristãos continuaram a ser perseguidos em Roma.

A perseguição aos cristãos encerrou-se a partir de 313 com o Édito de Milão, assinado pelo imperador Constantino, que se converteu à nova religião. 

Até aqui tudo bem, o Cristianismo era mais uma religião que arregimentava cada vez mais seguidores e espalhava sua fé.

Foi através do Concílio de Niceia, em 325, que se assentaram as bases religiosas e ideológicas da Igreja Católica Apostólica Romana.

Após as invasões dos povos germânicos (bárbaros) e com a crescente crise e decadência do Império Romano, a Igreja Católica aliou-se aos bárbaros, cristianizando-os, e assim, dominou e conquistou os vastos territórios ocidentais do Império Romano.

Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa ocidental.

Ajudou muito a prática da “venda de indulgências”, através da qual todo e qualquer pecado poderia ser perdoado por Deus; bastava, para isso, uma generosa doação do pecador à igreja, normalmente efetuado em ouro ou em terras; isto tornou a Igreja Católica uma das instituições mais ricas do mundo. Outra prática comum era acusar alguém de heresia, apenas para confiscar suas terras.

Através da centralização de seus princípios e da formulação de uma estrutura hierárquica, a Igreja teve condições suficientes para alargar o seu campo de influências durante a Idade Média, tendo papel preponderante na formação do feudalismo; além de grande proprietária de terras, estruturou a visão de mundo do homem medieval, tornando-se a instituição mais poderosa da época.

Difundiu a ideia do temor a Deus, do pecado, da culpa, das agruras do inferno, onde os pecadores queimariam por toda a eternidade; novamente o medo era a forma da Igreja Católica manter seu poder. Quase tudo era considerado pecado.

A fim de manter esse poder, a Igreja Católica necessitava manter-se sempre bem informada a respeito dos acontecimentos locais, visando precaver-se contra surpresas ou infortúnios; pensando nisso, no ano de 1215, durante o IV Concílio de Latrão, foi instituída a confissão obrigatória dos pecados; confessando seus pecados a um sacerdote, esses poderiam ser perdoados por Deus, mediante o cumprimento de certas penitências.

Se hoje os segredos das confissões são invioláveis, na idade media tornou-se a mais perfeita fonte de informações que se poderia ter.

A partir daí, a Igreja Católica começou a impor sua ideologia de forma cruel e truculenta; bastava discordar de seus dogmas, para ser considerado herege.

As pessoas acusadas de heresias eram interrogadas por membros do clero, podendo ser torturadas e queimadas em fogueiras. A Santa Inquisição foi estabelecida para a efetivação do poder político da Igreja Católica; as pessoas que questionassem a fé católica eram consideradas hereges. Com essas justificativas os não católicos eram julgados pelo Tribunal do Santo Ofício, que torturaram e mataram um grande número de pessoas; os que não morriam pelas torturas, acabavam na fogueira.

A Igreja Católica não só matava, mas o fazia de forma cruel, causando o maior sofrimento possível.

No universo medieval a Igreja Católica também monopolizava o conhecimento e a ciência, dominando o campo do saber, das ciências e dos estudos filosóficos; tudo só era aceito, conforme as escrituras bíblicas.

Giordano Bruno, teólogofilósofo, escritor e matemático, foi condenado por discordar dos conceitos científicos ditados pelo clero; foi queimado na fogueira no ano de 1600.

 Em 1633, o astrônomo Galileu Galilei, considerado por muitos o criador do método científico, recebia sua sentença frente a um tribunal da Inquisição, por defender a ideia do heliocentrismo, modelo desenvolvido por Nicolau Copérnico, pouco mais de um século antes. Para não morrer na fogueira, Galileu teve que renegar, publicamente, suas ideias, sendo, mesmo assim, condenado à prisão domiciliar, além de ter sua obra “Diálogo”, incluída no Índice de Livros Proibidos do Vaticano.

Na idade média a igreja determinava o que poderia ou não ser lido; todo o conhecimento que destoava da interpretação bíblica, era considerado como herege e queimado; uma forma de bloquear o conhecimento da população.

Tudo o que se sabe hoje a respeito da cultura clássica dos povos antigos, devemos, quem diria, aos perseguidos muçulmanos, que a preservaram e a transmitiram em suas universidades no oriente médio.

A Igreja Católica começou também a considerar que o catolicismo era a única religião que poderia existir, iniciando a ideia da necessidade da conversão de povos de outras crenças ao catolicismo; isso deu origem aos maiores derramamentos de sangue da história, tudo em nome da fé.

A partir de 1095, após convocação do papa Urbano II, a Igreja Católica iniciou um movimento militar chamado de “Cruzadas para conquistar Jerusalém, o Santo Sepulcro e qualquer outro local na Palestina considerado sagrado, que estava sob o controle muçulmano.

Para justificar as Cruzadas, foi desenvolvido o conceito de Guerra Justa, que afirmava que a guerra era aceitável se fosse realizada contra os pagãos – nesse caso, os muçulmanos. Milhares de inocentes, mulheres e crianças, foram mortos em função disso.

Ao todo foram realizadas oito cruzadas ao longo de mais de cem anos.

Outra grande crise ocorreu devido ao aparecimento da peste; a peste bubônica, ou peste negra, foi um dos maiores flagelos da idade média; só na Europa, 1/3 da população foi dizimada. Uma grande parcela de culpa, pelo elevado número de mortos, pode ser atribuído à Igreja Católica. Na época, a figura de curandeiros, xamãs ou mulheres atraentes eram associadas, pelo clero, a demônios e bruxas, que enfeitiçavam os homens; havia também a crença de que os gatos eram parceiros das bruxas, a própria personificação do demônio; em função disso, foram também caçados sem piedade; isso fez com que a população de ratos aumentasse consideravelmente, estimulando a disseminação da peste, que era transmitida pelas pulgas dos roedores.

Voltando ao campo das ciências, para a igreja, a Terra era considerada plana, por uma aparente contradição com interpretações literais de algumas passagens bíblicas; por esse motivo, alardeavam que quem se aventurasse a navegar por mares desconhecidos, estava fadado a despencar pela borda da Terra, tendo um fim horrível. Terríveis monstros marinhos, também eram descritos pela igreja.

Isto fez com que as grandes navegações e descobertas sofressem um grande atraso, prejudicando enormemente a descoberta de novas terras, o comércio e, consequentemente,  o desenvolvimento econômico. No ano de 1021 (471 anos antes de Cristovão Colombo), o viking Leif Eriksson liderou uma expedição com 35 homens, chegando à região da Terra Nova, atual Canadá; entre 1405 e 1433 (87 anos ante de Colombo), o chinês Zheng He, com a maior frota do mundo na época, navegou sete vezes para o Sudeste Asiático e Oceano Índico, podendo ter chegado às Américas.

Finalmente, com o início das grandes navegações, no final do século XV, a ideia da Igreja Católica da conversão, ou evangelização dos povos pagãos (afinal, só o Catolicismo era a verdadeira religião) ganhou força; em todos os territórios conquistados, a nova religião era imposta à força; várias culturas ao redor do mundo  tiveram suas crenças, costumes e modos de vida destruídos, todo em nome da propagação da fé da Igreja Católica.

E as mazelas da Igreja Católica não param de vir à tona: escândalos financeiros; escabrosos casos de pedofilia, que durante muito tempo foram vergonhosamente omitidos.

No auge da epidemia da AIDS, a Igreja Católica se manifestou veemente contra o uso de preservativos, a forma mais eficaz de prevenir a doença; o Vaticano manifestou, recentemente, ser contrario a união homossexual; enfim, são muitas as ideias tacanhas e retrógradas desta instituição que se valeu de uma fé, para exercer seu poder perverso e controlador.

O mais inacreditável é como os ensinamentos de Jesus, de paz, de amor, serenidade, igualdade e harmonia entre os homens, se transformaram no que foi e no que é hoje a Igreja Católica; e como ela continua arregimentando tantos seguidores pelo mundo.