sexta-feira, 30 de janeiro de 2015



O GUERREIRO DA PAZ E O VAZIO


Nenhuma força ou conflito externo pode me ameaçar. Permaneço calmo, não importa quando ou como o inimigo ataque. Por que?  Porque estou vazio. Não tenho apego à vida ou à morte. Deixo tudo a critério de meu espírito iluminado.
Desapegar-se da vida, não significa morrer sem lutar pela verdade; desapegar-se da morte não quer dizer fugir do conflito.
Ambas reações são manifestações do medo e fraqueza espiritual. Desapegar-se da vida e da morte é recusar-se  a ser controlado pelo medo...”
Morihei Ueshiba(1)

O conceito de “vazio” pode ter basicamente dois significados: O primeiro é mais sutil; é o vazio da mente. Nossa mente está constantemente relembrando fatos do passado, ou se preocupando com problemas futuros.
A subida de uma escada com milhares de degraus, começa com o primeiro deles. Não importa se você viverá uma semana ou um século, pois só pode viver o momento presente. O passado perdeu-se para sempre; o futuro não chegará nunca; o único momento em que se pode fazer alguma coisa é o agora, por isto é chamado “presente”.
O passado é lembrança, o futuro, esperança; portanto, não fuja para o passado nem sonhe com o futuro, viva o agora, mantendo a mente livre de pensamentos. (2)
Isto é uma coisa fácil de dizer, mas muito difícil de se por em prática. Nossa mente está acostumada a pensar o tempo todo, muitas vezes nos afastando do momento presente. Quando pensamos, nossa mente está voltada para dentro, dificultando a percepção do que se passa a nossa volta; por outro lado, quando a mente está voltada para fora, estamos prestando atenção aos fatos que nos rodeiam, permitindo uma maior interação com eles.
Mas voltando ao problema, como esvaziar a mente, ou mantê-la em silencio? Devemos entender que um pensamento não é nada, até nossa mente pegá-lo e fazer alguma coisa com ele. Além disso, entre um pensamento e outro, existe um pequeno vazio, você não o percebe, mas ele está lá; saber identificá-lo e prolongá-lo, pode ser aprendido e utilizado para obter este estado de vazio, ou silêncio da mente, quando conseguimos ser nos mesmos e não os pensamentos de nossa mente. Exercício de respiração e meditação são caminhos para se atingir este conhecimento. (3)
O segundo é o vazio físico, que ocorre, por exemplo, quando esquivamo-nos de um golpe, fazendo o oponente acertar o vazio; ora, o oponente não pode ferir o vazio. Este conceito é muito usado no Aikido; não estar no local onde o golpe for aplicado. Como? Simplesmente saindo da frente e deixando-o passar, para em seguida dominar a situação. Isto também pode ser muito bem aplicado nos conflitos do dia a dia.
Da mesma forma que o anterior, este também é um conceito fácil de entender, mas difícil de colocar em prática. Treino, muito treino em ambos os casos é a chave que abrirá as portas destes novos conhecimentos valiosos.


Referências:
1-      Morihei Ueshiba: Fundador do Aikido
2-      Mitsug Saotome

3-      Philip Dunn

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

O AIKIDO, A ARTE MARCIAL DA PAZ

O Aikido É uma arte marcial criada no Japão após a 2ª grande guerra, pelo mestre Morihei Ueshiba (1883-1969). O conceito fundamental desta arte marcial consiste no princípio da harmonia, seja entre seus praticantes, seja entra estes e o universo que os rodeia.
Para entender o Aikido, precisamos analisar a vida de seu fudador: Morihei Ueshiba, também chamado Ô-Sensei ("grande mestre"). Ele foi praticante de vários estilos de artes marciais, tornando-se um exímio praticante em todas elas. Contudo, em todas as artes marciais havia o conceito de vencer, ou destruir o inimigo, pois todas elas foram desenvolvidas, e transmitidas através de gerações, por antigos Samurais, a partir de suas experiências nos campos de batalhas, onde o objetivo era a vitória, com a aniquilação do inimigo.
Em 1919, conheceu um mestre e com ele aprendeu uma técnica espiritual, por meio da meditação concentrada, aumentando sua serenidade e reforçando nele os conceitos da harmonia.
Consciente de que não poderia haver harmonia na destruição, Ô-Sensei começou a desenvolver os conceitos de sua própria Arte Marcial, onde não mais havia a idéia de vencer ou destruir um inimigo, mas pura e tão somente a de encerrar um conflito.
O termo Aikido é composto por três caracteres kanji:
- Ai : harmonia  
- Ki : energia     
- Dô : caminho
Em tradução livre, "caminho da harmonização das energias".

O termo AI significa HARMONIA e refere-se à característica do Aikido de que, para controlar um oponente, primeiramente é necessário tornar-se um só com ele, para em seguida, como um só conjunto, dominá-lo. O conceito básico deste princípio é nunca se opor a um golpe ou esforço do oponente; se ele puxar, empurre; se ele empurrar, gire o corpo, de forma a, em ambos os casos, usar o impulso do oponente em seu benefício.

O KI significa a ENERGIA empregada neste ato. Trata-se de uma energia universal, existente em todas as coisas, conceito ao qual os antropólogos chamam de animatismo.

O DO significa o CAMINHO, no sentido de caminho de busca de uma evolução pessoal e espiritual; é exatamente o mesmo significado do Tao, no Taoísmo.

Com base nestes princípios é possível ao praticante dominar oponentes com força física muito superior à sua própria.
Outra característica do Aikido, é a de buscar, através de sua prática, um aprimoramento pessoal e espiritual. Os antigos mestres ensinaram que os guerreiros de antigamente, não faziam distinção entre o mundo físico e o espiritual; desta forma, se elegante e refinada era sua técnica, refinado e elegante era seu espírito; portanto, empenhando-se nos treinamentos para aprimorar sua técnica, o praticante aprimorava, também, seu espírito.
Desta forma, não há, no Aikido, golpes de ataque, competição, ou qualquer manifestação de agressividade ou violência; pelo contrário, o praticante aprende a controlar sua agressividade, tornando-se tranquilo e equilibrado em qualquer situação, não só nos confrontos físicos, mas também diante dos mais diversor contratempos do dia a dia.
Os conflitos com os quais nos deparamos na vida, constantemente nos atacam e nos agridem com força. Nossa atitude habitual é “estufar o peito” e encará-lo de frente, sofrendo, porém, todo o impácto deste ataque. Seguindo os princípios do Aikido, o Guerreiro Pacífico não tenta se opor a eles, pelo contrário, evita este primeiro impacto esquivando-se dele, para em seguida, em harmonia com o oponente, dominá-lo. Estar em harmonia com o oponente não siguinifica de forma alguma concordar com ele, pelo contrário, é fazer sua força ou argumentos agirem contra ele próprio, encerrando o conflito e se livrando de qualquer ameaça, instaurando a paz.

O Aikido chegou ao Brasil em 1963, por intermédio do Shihan Reishin Kawai, 8º Dan nesta Arte Marcial. Carinhosamente conhecido por seus discípulos como “Kawai Sensei”, ele fundou a União Sulamericana de Aikido, passando a dar aulas na Academia Central, por ele construída, onde eu tive o privilégio e a honra de ser seu aluno.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

O GUERREIRO DA PAZ

Desde a mais remota antiguidade, a figura do guerreiro foi forjada nos campos de batalha a ferro, fogo e sangue. No mais das vezes, um soldado de um exército se sobressaia e acabava se tornando um guerreiro; noutras, porém, o camponês era obrigado a trocar sua enxada pela espada, para proteger seu clã ou povoado de bandidos ou salteadores, vindo a se tornar, após algum tempo, um hábil guerreiro, como no caso dos Samurais, no Japão medieval.
Não costumo usar a expressão “Grande Guerreiro”, pois como disse Mestre Yoda, no filme “O Retorno do Jedi” – de Guerra nas Estrela: “- Guerra não faz ninguém grande”.
Estes guerreiros, passaram a adquirir conhecimento e experiência, tornando-se grandes sábios e estrategistas, mestres na arte de resolver conflitos ou problemas. Muitos registraram seus conhecimentos e estratégias, como Sun Tsu, na China antiga, Miamoto Musashi, no Japão medieval, dentre outros, sendo que seus ensinamentos, conhecidos até a atualidade, servem de base para aqueles que enfrentam situações de conflito.
Hoje em dia, embora as guerras continuem, você não precisa estar participando de uma delas para viver situações de conflito. Uma discussão com um chefe, em uma reunião de trabalho, um desentendimento familiar; uma disputa de emprego, etc.; as possibilidades são muitas. O ritmo de vida moderno, nos induz ao conflito.
Estes conceitos desenvolvidos pelos grandes mestres, entretanto, se por um lado ajudavam a pessoa a se sair bem de uma situação de conflito, por outro, acabava criando novos conflitos, pois ensinava apenas como vencer em tais situações, não se importando se, com isto, fosse necessário derrotar ou aniquilar o oponente. Eles raramente levavam à solução do conflito estabelecendo uma situação de paz.
Na cultura oriental, o conceito de paz está associado ao equilíbrio entre forças em oposição. Na verdade, tais forças não são consideradas opostas, mas complementares, como se fossem os dois lados de uma mesma moeda. E assim a paz só pode ser mantida se mantido este equilíbrio, com as forças fluindo constantemente entre estes extremos.
Com base nesta linha de raciocínio, surge a figura do Guerreiro Pacífico; que consegue enfrentar e solucionar situações de conflito, sem, contudo, deixar de estabelecer ou manter a paz.
O termo BUDO é  composto pelo termo “BU”, que significa guerra ou arte marcial, e por “DO”, que significa “caminho”, no sentido de um modo de viver ou de se comportar, visando o aprimoramento pessoal e espiritual, na busca pelo SATORI, a iluminação.
Então BUDO seria a busca deste aprimoramento pessoal e espiritual através da prática de uma arte marcial.
Eu costumo chamar o praticante de artes marciais, que segue os conceitos do BUDO, de Guerreiros da Paz.
Assim é o Guerreiro da Paz: é imensamente poderoso, centrado, fisicamente saudável e, portanto, saudável psicológica e espiritualmente. Em sua essência, o Guerreiro Pacífico está constantemente fluindo no espaço que medeia entre a força e a fraqueza, a investida e o recuo.
O guerreiro agressivo, por outro lado, está constantemente pondo para fora uma energia que o enfraquece, pois drena o Ki essencial do corpo.
No instante seguinte, o bem estar moral e espiritual tem poucas oportunidades de crescer, pois há um fluxo mínimo ocorrendo entre as polaridades da existência.(1)
Nos tempos modernos, um dos maiores guerreiro da paz foi Morehei Ueshiba, criador e fundador do Aikido, arte marcial que, em sua essência, busca a harmonia, não só com nosso oponente, mas com todos os elementos da natureza, conseguindo um estado de equilíbrio e, conseqüentemente, a paz.
Estes conceitos estão à disposição de todos, não sendo necessário ser um praticante de artes marciais para desenvolvê-los; basta, a cada dia, treinar seu espírito...




REFERÊNCIAS:


1-      Phillip Dun