quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A LINGUAGEM DO CORPO




A LINGUAGEM DO CORPO


Todo cachorro, quando abanana o rabo, mostra que está feliz; já um gato, quando balança o rabo, é sinal de que está bravo. São ações involuntárias, mas que nos acostumamos a interpretar e usamos para identificar seus estados de espírito. E os exemplos no mundo animal são muitos; o polvo muda de cor, quando está nervoso; etc.

Existe uma espécie de “linguagem corporal” em que, pequenos gestos ou movimentos involuntários, nos indicam como será o comportamento de quem os produz.

Mas não é só no mundo animal que isso ocorre; a linguagem corporal é especialmente desenvolvida nos seres humanos; resquícios talvez de nosso processo evolutivo, quando ainda não dominávamos a fala e só nos comunicávamos por gestos. Só que os gestos voluntários são a mesma coisa do que mímica e não é a isso a que estou me referindo. Refiro-me à capacidade desenvolvida por nossos antepassados de identificar gestos involuntários e assim descobrir se o chefe do bando estava de bom ou mau humor, quando nos aproximávamos dele; se ele estava ou não interessado em nossas mímicas; se sua atitude ia ser agressiva ou receptiva; saber se uma fêmea estava receptiva ou não, tec.

Conhecer estes gestos que indicavam o humor ou o estado de espírito dos outros, podia ser de suma importância para a segurança ou o bom relacionamento dentro do grupo.

Bom, evoluímos, aprendemos a falar, mas esses sinais involuntários, essa linguagem corporal permaneceu, embora a maioria das pessoas tenha desaprendido a interpretá-la. Mas ela é importantíssima para o nosso dia a dia e pode nos revelar coisas, a respeito das pessoas com as quais convivemos, que nem imaginamos.

Ela é vital em reuniões de negócios, no flerte, no convívio familiar, enfim, em muitas situações da vida em que pequenos gestos, podem nos mostrar uma realidade bastante diferente daquela que tentam nos mostrar.

Há muitos anos, uma jovem adolescente fugiu de casa, deixando os pais desesperados; pouco tempo depois, mandou uma foto para tranquiliza-los, onde aparecia sorrindo; suas duas mãos fortemente fechadas, no entanto, indicavam que ela vivia um momento de grande ansiedade e preocupação.

Em uma conversa, por exemplo, braços cruzados, indicam que a outra pessoa está na defensiva; se ela se inclina para trás, é sinal que ela está querendo fugir da situação. Já em uma paquera, quando a mulher mostra a palma de uma das mãos para cima, ela esta indicando que está receptiva à conversa do outro. E assim, existem milhares de sinais não verbais, que indicam claramente o que as pessoas estão sentindo, mesmo que digam o contrário. Há dezenas de livros que ensinam a identificar tais sinais, basta procura-los.

Mas, no âmbito das Artes Marciais, dos conflitos físicos propriamente ditos, há um inconfundível conjunto de sinais que indicam claramente como o inimigo vai nos atacar: são os sinais emitidos pelos olhos. Antes de qualquer ataque, seja um chute, um soco, etc., o oponente mede, com um breve movimento dos olhos, a distância da parte do corpo que ele usará para atacar (o pé, por exemplo), até o alvo (sua cabeça).

É um movimento muito rápido e muito sutil, mas com a prática, ele se torna inconfundível para nós, permitindo que prevejamos como o golpe será aplicado, permitindo efetuar a defesa com facilidade. O problema é que quase ninguém reconhece mais esses sinais.

Como todo aprendizado, este exige muita atenção, muita prática e ataques honestos de nossos oponentes; mas, acima de tudo, uma mudança geral dos conceitos encontrados em alguns livros, nos quais li que o Aikidoista não deve fixar seu olhar em nada, mantendo uma visão ampla do que ocorre ao seu redor.


Não é bem assim que a coisa funciona. Devemos fixar o olhar, sim, nos olhos do oponente. Por uma breve fração de segundo. Para em seguida, depois de dominá-lo, expandir o olhar ao redor, para não ser surpreendido por outros atacantes.

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

AIKIDO: ARTE MARCIAL OU COREOGRAFIA?




O AIKIDO ATUAL: ARTE MARCIAL OU COREOGRAFIA?

As Artes Marciais nasceram nos campos de batalha; da necessidade dos guerreiros de desenvolverem e aperfeiçoarem métodos de combate ou de defesa, que aumentasse suas chances de sobreviver aos conflitos.
Nos tempos de paz, essas técnicas eram ensinadas em escolas especializadas onde as pessoas buscavam esses ensinamentos, muitas vezes com o objetivo de assimilar seus conceitos, melhorar a auto disciplina ou pura e simplesmente de aprender um tipo de defesa pessoal.

Ô Sensei, mesmo antes de criar o Aikido, sempre foi um guerreiro. Pelos motivos que todos conhecem, fundou sua própria Arte Marcial que, apesar de menos agressiva e com objetivos diferentes, ainda era uma Arte Marcial, um método de defesa pessoal.

Do mesmo modo, nosso saudoso Kawai Sensei também era um guerreiro; em um vídeo que percorreu as redes sociais, tempos atrás, ele iniciava falando: - “Aikido primeiro saúde, depois defesa”. Ele, igualmente, acreditava que a prática do Aikido era benéfica não só para o corpo, mas também para a mente; contudo considerava o Aikido um método de defesa pessoal, uma Arte Marcial.

Com o tempo, distorcendo o conceito do não uso da força e da não resistência, muitos praticantes começaram a praticar o Aikido de uma forma muito branda, onde o atacante (chamado Uke) não mais atacava com vigor, e quem aplicava a técnica (chamado Nague) não o fazia com energia, acabando, o atacante, por cair sozinho, antes mesmo da conclusão da técnica, tudo em nome de uma suposta e ilusória harmonia.

Uke e Nague passaram a colaboravam um com o outro. Isto se perpetuou, virou um padrão e causou uma degradação da técnica.

Com o passar do tempo, isso deve ter causado o descrédito na eficiência desta Arte Marcial como meio de defesa, pois  muitas vezes ouvi, em minha própria academia, alunos solicitando ao Sensei que desse algumas aulas especiais, voltadas para defesa pessoal.
 De repente, ninguém mais acreditava no Aikido como método de defesa pessoal.
Com isso, cada vez mais o Aikido foi deixando de ser uma Arte Marcial, para se tornar uma simples coreografia; uma dança onde uma das partes finge que ataca, enquanto a outra finge que aplica uma técnica.

Não defendo, de forma alguma, que o Aikido deva ser violento ou, de qualquer maneira, usar a força; defendo apenas que quem ataca, o faça de verdade e deixe o outro concluir a aplicação de sua técnica, em forma de defesa, sem força nem violência, mas de forma elegante, precisa e, conseqüentemente, eficiente.

Mas a grande maioria dos praticantes prefere treinar desta forma.
Isso está errado? Creio que não necessariamente; relembrando as palavras de Kawai Sensei: -“Aikido primeiro saúde...”. Se praticar Akido desta nova forma está fazendo bem a quem o pratica, ótimo, que continue assim e desfrute das benesses dessa prática.

O que não pode ocorrer é que se pretenda que isso vire o padrão de treinamento, com todos praticando Aikido desta forma, deixando, definitivamente, de encarar o Aikido como Arte Marcial, como vem ocorrendo. É preciso que não se perca a essência desta conceituada Arte Marcial com práticas que divergem daquelas idealizadas por seu fundador e que vem modificando seu estilo, em nome de uma suposta evolução e aperfeiçoamento técnico.

“...Os mestres antigos ensinaram seqüências e movimentos para que pudéssemos desenvolver uma boa técnica. E até a técnica mais simples contém princípios profundos. Muitos praticantes se focam demais na técnica externa. Isso faz com que eles duvidem da tradição dos mestres e criem novos truques. Entretanto, se se depender demais de técnica, mais cedo ou mais tarde se chegará a um impasse, porque a técnica física possui um limite...” (1)

Como sempre, no meu conceito, o Aikido e a vida se confundem e seguem os mesmos princípios, ficando difícil diferenciar um do outro.

Um paralelo, aqui, pode ser traçado por um empregado que não desempenha bem as suas funções no trabalho; mas como o salário que ele recebe é baixo, o patrão não cobra muito dele e nem o manda embora. Em resumo: um finge que trabalha enquanto o outro finge que paga um salário; nenhum dos dois ganha nada com tal situação e as possibilidades de evolução tornam-se nulas.

Acho que isso vale para tudo na vida; se for fazer alguma coisa, faça-a bem feita, com todo o empenho que puder; só assim terá uma chance de obter sucesso naquilo que se propôs a fazer.



1 - (trecho do conto: As maravilhosas técnicas do gato velho).