A LINGUAGEM DO CORPO
Todo
cachorro, quando abanana o rabo, mostra que está feliz; já um gato, quando
balança o rabo, é sinal de que está bravo. São ações involuntárias, mas que nos
acostumamos a interpretar e usamos para identificar seus estados de espírito. E
os exemplos no mundo animal são muitos; o polvo muda de cor, quando está
nervoso; etc.
Existe uma
espécie de “linguagem corporal” em que, pequenos gestos ou movimentos
involuntários, nos indicam como será o comportamento de quem os produz.
Mas não é só
no mundo animal que isso ocorre; a linguagem corporal é especialmente
desenvolvida nos seres humanos; resquícios talvez de nosso processo evolutivo,
quando ainda não dominávamos a fala e só nos comunicávamos por gestos. Só que os
gestos voluntários são a mesma coisa do que mímica e não é a isso a que estou
me referindo. Refiro-me à capacidade desenvolvida por nossos antepassados de
identificar gestos involuntários e assim descobrir se o chefe do bando estava
de bom ou mau humor, quando nos aproximávamos dele; se ele estava ou não
interessado em nossas mímicas; se sua atitude ia ser agressiva ou receptiva;
saber se uma fêmea estava receptiva ou não, tec.
Conhecer
estes gestos que indicavam o humor ou o estado de espírito dos outros, podia
ser de suma importância para a segurança ou o bom relacionamento dentro do
grupo.
Bom,
evoluímos, aprendemos a falar, mas esses sinais involuntários, essa linguagem
corporal permaneceu, embora a maioria das pessoas tenha desaprendido a
interpretá-la. Mas ela é importantíssima para o nosso dia a dia e pode nos
revelar coisas, a respeito das pessoas com as quais convivemos, que nem
imaginamos.
Ela é vital
em reuniões de negócios, no flerte, no convívio familiar, enfim, em muitas
situações da vida em que pequenos gestos, podem nos mostrar uma realidade
bastante diferente daquela que tentam nos mostrar.
Há muitos
anos, uma jovem adolescente fugiu de casa, deixando os pais desesperados; pouco
tempo depois, mandou uma foto para tranquiliza-los, onde aparecia sorrindo;
suas duas mãos fortemente fechadas, no entanto, indicavam que ela vivia um
momento de grande ansiedade e preocupação.
Em uma
conversa, por exemplo, braços cruzados, indicam que a outra pessoa está na
defensiva; se ela se inclina para trás, é sinal que ela está querendo fugir da
situação. Já em uma paquera, quando a mulher mostra a palma de uma das mãos
para cima, ela esta indicando que está receptiva à conversa do outro. E assim,
existem milhares de sinais não verbais, que indicam claramente o que as pessoas
estão sentindo, mesmo que digam o contrário. Há dezenas de livros que ensinam a
identificar tais sinais, basta procura-los.
Mas, no
âmbito das Artes Marciais, dos conflitos físicos propriamente ditos, há um
inconfundível conjunto de sinais que indicam claramente como o inimigo vai nos
atacar: são os sinais emitidos pelos olhos. Antes de qualquer ataque, seja um
chute, um soco, etc., o oponente mede, com um breve movimento dos olhos, a
distância da parte do corpo que ele usará para atacar (o pé, por exemplo), até
o alvo (sua cabeça).
É um
movimento muito rápido e muito sutil, mas com a prática, ele se torna
inconfundível para nós, permitindo que prevejamos como o golpe será aplicado,
permitindo efetuar a defesa com facilidade. O problema é que quase ninguém
reconhece mais esses sinais.
Como todo
aprendizado, este exige muita atenção, muita prática e ataques honestos de
nossos oponentes; mas, acima de tudo, uma mudança geral dos conceitos
encontrados em alguns livros, nos quais li que o Aikidoista não deve fixar seu
olhar em nada, mantendo uma visão ampla do que ocorre ao seu redor.
Não é bem
assim que a coisa funciona. Devemos fixar o olhar, sim, nos olhos do oponente. Por
uma breve fração de segundo. Para em seguida, depois de dominá-lo, expandir o
olhar ao redor, para não ser surpreendido por outros atacantes.