A
IMORTALIDADE
A imortalidade, desde os tempos mais
remotos, sempre foi uma coisa que seduziu a imaginação dos seres humanos; não
só pelos grandes e poderosos, que sonhavam em se perpetuar no comando de seus
impérios, mas também pelas pessoas comuns, que simplesmente temiam a morte.
De tudo foi tentado, para
alcançá-la: de elixires milagrosos, na antiguidade, que muitas vezes acabavam
por matar precocemente quem os tomava; até a busca, pelos alquimistas, da pedra
filosofal, já na idade média. Como nada nunca funcionou, o homem se voltou ao
seu lado místico.
Para os Gregos, com sua
mitologia, a morte era apenas uma passagem de uma vida, vivida no mundo
superior, para outra, vivida eternamente no mundo de Hades, o Deus do mundo
subterrâneo.
Já para os Egípcios, após a morte
neste mundo, os corpos dos ricos e poderosos eram mumificados, para que ficassem
preservados e pudessem seguir para uma outra vida, acompanhados de suas
riquezas e servos, que também eram mortos e sepultados juntos, para continuar a
servi-los nesta nova vida.
Algumas religiões se referiam a
esta vida como um estágio passageiro, prometendo a vida eterna depois da morte,
caso fossem seguidos, rigidamente, os dogmas e doutrinas impostos por elas.
E os exemplos foram muitos, de seitas
ou religiões que prometiam, de alguma forma, a possibilidade de uma vida eterna
após a morte.
O problema era que, em todos os
caminhos que levavam à vida eterna, havia a passagem obrigatória e desagradável
pela experiência da morte; o que não agradava a ninguém.
Talvez por este motivo, Ponce de
Leon, lá pelos idos de 1500, seguindo os passos de Hernán Cortés, que se
empenhava na conquista do povo Asteca, tenha resolvido montar uma expedição e
sair em busca de uma lenda, sobre a qual havia ouvido falar, através dos
nativos: a Fonte da Juventude. Quem bebesse de suas águas, voltaria a ser jovem
novamente, não necessitando mais morrer para alcançar a vida eterna; quando recomeçasse
a envelhecer, bastava beber mais alguns goles, para voltar a ser jovem.
Ponce de Leon nunca mais voltou
de sua expedição; talvez tenha encontrado sua tão sonhada fonte da juventude,
mas, imprudente, pode ter bebido de sua água em demasia, rejuvenescendo até o
estágio fetal, onde a vida não é possível fora do útero materno, vindo a morrer
em função disso.
Brincadeiras a parte, a verdade é
que ninguém nunca alcançou, de fato, a tão sonhada imortalidade; pelo menos não
da forma como todos sonhavam, de viver para sempre.
Sempre achei ridículas essas
infindáveis buscas por uma vida eterna; devemos aceitar, como inevitável, a
finitude da vida; tudo o que é vivo, é também mortal.
Certo dia, porém, um fato
ocorrido, me fez começar a pensar a respeito do que poderia vir a ser, na
realidade, a tão sonhada imortalidade. Tudo por causa de um trecho da Ilíada,
obra de Homero, que narra a lendária Guerra de Troia.
Em uma passagem da narrativa,
Aquiles, o maior de todos os guerreiros gregos, filho de Tétis, uma ninfa do
mar, após ser convocado por Agamenon para lutar contra Troia, foi se aconselhar
com a mãe, sobre que decisão tomar.
Com a sabedoria e a serenidade de
uma deidade, Tétis falou a Aquiles que se ele não fosse para a guerra, ele se
casaria com uma linda mulher, teria filhos com ela e seria feliz; seu nome
seria lembrado por seus filhos e netos, mas depois de poucas gerações, ele seria
completamente esquecido; no entanto, se fosse para Troia, jamais retornaria,
mas seu nome seria comentado e lembrado para sempre.
Passei um bom tempo pensando a
respeito; talvez estivesse aí a verdadeira imortalidade; não no fato de se
viver eternamente, o que sabemos ser impossível, mas no fato de ter seu nome
imortalizado por algum feito extraordinário.
Comecei a lembrar das pessoas que
tiveram seus nomes imortalizados: Albert Einstein, por sua revolucionária
teoria da relatividade; Alexander Fleming, pela descoberta da penicilina, e
tantos outros que se imortalizaram pelos feitos notáveis que realizaram em prol
da humanidade.
Porém, não só feitos gloriosos e
louváveis tornaram pessoas imortais; estão aí Hitler, Stalin, Pol Pot, etc.,
para provar o contrário.
Seguindo este raciocínio e me
aproximando de nossa realidade, lembrei que em nossa arte marcial, o Aikido,
também podemos dizer que temos pessoas imortais; Morihei Ueshiba, o fundador,
sem dúvida nenhuma, ainda vive em cada uma das técnicas que criou, quando as aplicamos
em nossos treinos.
Kawai Sensei, meu mestre, que
trouxe o Aikido para o Brasil, também vive, sempre que um dos conceitos, por
ele ensinado, é utilizado em nossas vidas; tornou-se um imortal e será para
sempre lembrado, pelo magnífico trabalho que realizou.
Os pensamentos acabaram
convergindo e chegando a mim, ou mais precisamente às pessoas comuns, como eu;
passaremos indiferentes pela vida, ou deixaremos, de alguma forma, nossa marca?
Acho que esta resposta, apenas pelo modo como vivemos a vida, o futuro dirá.