quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A ÁGUIA QUE VIROU GALINHA



A ÁGUIA QUE VIROU GALINHA

Após ser capturada, durante muito tempo, uma águia foi criada em um galinheiro. E com o tempo, foi assimilando o jeito de ser, de pensar, de ciscar a terra, de comer milho, de dormir em poleiros...
E a medida que o tempo passava, ia esquecendo as lembranças que lhe restavam do passado; os cumes das montanhas, os vôos nas nuvens, o frio das alturas, a vista se perdendo no horizonte, o delicioso sentimento de dignidade e liberdade...
Como não havia nada que lhe lembrasse destas coisas e todas as galinhas cacarejassem os mesmos catecismos, ela acabou por acreditar que ela não passava de uma galinha com perturbação hormonal; tudo grande demais: aquele bico curvo, sinal certo de acromegalia; e desejava muito que seu cocô tivesse o mesmo cheiro certo do das galinhas... Não se sentia feliz, mas assim era a vida. Tinha frequentemente insonia e vivia angustiada.
Um dia apareceu um homem que vivera na montanha e vira o voo orgulhoso das águias. “O que é que você faz aqui?”, ele perguntou.
“Este é o meu lugar”, ela respondeu. “Todo mundo sabe que galinhas vivem em galinheiro, comem milho, ciscam o chão, botam ovos e, finamente, um dia viram canja”.
“Mas você não é uma galinha”, ele disse, “É uma águia.”
“De jeito nenhum. Águias voam alto. Eu nem sequer sei voar. Para dizer a verdade, nem quero. A altura me dá vertigens. É mais seguro ir andando, passo a passo...”
E não houve argumento que mudasse o modo de pensar da águia esquecida.
Até que o homem, não aguentando mais ver aquela cena deprimente, uma águia transformada em galinha, agarrou a águia a força e a levou até o alto de uma montanha. A pobre ave começou a cacarejar de terror, mas o homem não teve compaixão; jogou-a no vazio do abismo.
Foi então que o pavor, misturado aos instintos que ainda faziam parte dela, fizeram com que suas asas batessem, a princípio em pânico, mas pouco a pouco com tranquila dignidade, até se abrirem confiante, reconhecendo aquele espaço imenso que lhe fora roubado. E ela finalmente compreendeu que não era uma galinha, mas uma águia.

                                                   (autor desconhecido)

Quantas pessoas não abrem mão de suas próprias vidas, tentando viver uma que, embora não seja a sua,  melhor se adapte às condições que se apresentam.
Seja pelo ilusório amor por outra pessoa, ou pelo verdadeiro e incondicional amor por uma filha, os motivos podem ser muitos, mas o fim é certamente sempre o mesmo.
Pura e simplesmente porque não é possível viver uma vida que não seja a sua; pode-se fingir durante certo tempo e até acreditar piamente que aquela é a sua vida, mas bem lá no fundo, em seu âmago, há algo sempre gritando que aquele não é você e trazendo sofrimento e dor.
Mas não precisa ser assim! Que você imprima em sua existência e naquelas de quem você ama a marca daquilo que você realmente é e não daquilo em que você sem querer se transformou.

Tenha coragem, se lance no abismo e abra as suas asas; e faça isso você mesmo, pois o bondoso homem da historia pode não aparecer nunca...

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