terça-feira, 29 de setembro de 2015

DEUS



DEUS

Sou ateu convicto, mas nem por isso deixo de ter minha espiritualidade; para mim Deus existe dentro de cada um de nós; uma centelha divina que pode ser desenvolvida até que se atinja a iluminação.

Esta matéria não tem por objetivo desrespeitar, nem tampouco menosprezar ou questionar as demais religiões ou seus seguidores.

Muitas pessoas escalam o Monte Fuji a cada ano, mas nem todos vão pelo mesmo caminho. O Fujiyama tem diversos lados e cada pessoa sobe por uma razão diferente, com diferentes habilidades. Não se discute qual caminho é o certo, porque o cume é o cume e todos os caminhos levam à mesma verdade última.

Algumas culturas cultivam a ideia da existência de várias divindades; a mitologia grega é o exemplo mais clássico, mas existem muitas outras. A humanidade tem por hábito atribuir a Deuses, os fenômenos naturais que não entendem; assim, para nossos índios o raio era o Deus Tupã; os vulcões, para os indonésios, que eram obrigados a sacrificar belas jovens para aplacar sua ira; etc.

Um bom exemplo é o Japão; lá as múltiplas divindades são relacionadas aos fenômenos naturais, tais como: montanhas, rios, ventos etc. No Xintoísmo, essas divindades são chamadas KAMI; a ideia pode parecer meio mística, mas se analisarmos sobre outro ponto de vista, podemos entender melhor:

A ideia de que existem muitos KAMI, bem como um KAMI original pode parecer paradoxal; e a ideia de que os KAMI governam o funcionamento das montanhas e dos rios, da terra e dos céus, das árvores e dos pássaros, pode ser incompreensível para aqueles que foram educados na ciência moderna. Entretanto, se substituirmos os KAMI pelas leis da física, as leis que governam os fenômenos naturais, fica claro que o universo está estreitamente ligado por inter-relacionamentos e que os KAMI, as leis da física, são a mesma coisa.(1)
Toda a matéria contida no universo é feita da mesma coisa, da mesma energia essencial. Seja um corpo humano ou uma montanha, qualquer que seja a coisa ela é formada por átomos. E, embora a qualidade e a quantidade difiram, parece haver uma inteligência universal em todas as coisas, nela produzindo ordem.

Nos átomos, os elétrons giram em torno de um núcleo, em uma órbita constante, não colidindo contra ele, nem dele se desgarrando, mantidos por uma força eletromagnética; por outro lado, no núcleo, os prótons e nêutrons são mantidos unidos pela força nuclear, evitando que se afastem, tudo numa perfeita harmonia, como se houvesse uma inteligência suprema a controla-los.

Desde tempos remotos, a humanidade, mesmo sem conhecer tais leis, percebe algo que se parece a um poder misterioso que as controla; que se manifesta através da perfeição e da harmonia dos fenômenos naturais, – e dá-lhe o nome de DEUS.

E assim evoluíram todas as religiões. No início, algo que trazia muitas vezes medo, mas também conforto e amparo a seus seguidores; com o tempo, virou o motivo dos mais sangrentos conflitos vividos pela humanidade; fato que presenciamos até os dias de hoje e com o qual continuaremos convivendo até o fim; afinal, nosso Deus e mais poderoso do que o deles...


Referência:

1- Mitsug Saotome


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A ENERGIA DOS OPOSTOS



A ENERGIA DOS OPOSTOS

Outro dia, sentado sobre uma pedra, fiquei longo tempo observando o vai e vem das ondas do mar.
Quando vinha, a energia da onda revolvia a areia do fundo; ao voltar, arrastava pequenas conchas, devolvendo a energia, num fluxo constante.
Demorei um tempo até entender que aquilo era a respiração da natureza. O eterno movimento de vai e vem, fluxo de energia da vida.
Como a nossa respiração, um eterno fluxo de energia, a alternância entre aspirar e expirar.
A própria manutenção da vida, que faz nosso sangue circular pelo corpo, é composto de um breve relaxamento, seguido de uma breve contração de músculos de nosso coração.
Até mesmo o sublime momento da concepção, não passa de uma delicada alternância entre movimentos de empurrar e puxar; uma passagem de um estado de puro desespero para uma explosão de alívio e relaxamento.
Assim é a harmonia da natureza: um eterno fluxo de energia entre os opostos.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

O SILÊNCIO



O SILÊNCIO


Há mais de 2.500 anos, um general chinês, chamado Sun Tzu, escreveu em seu livro “A Arte da Guerra” uma frase que considero como uma verdade suprema: “se você se conhece e conhece o seu inimigo, não precisa temer o resultado de cem batalhas...”.

Conhecer o inimigo é relativamente fácil: pesquisa e observação acabarão por revelar detalhes da personalidade, comportamento, modo de pensar e agir, etc., o que tornará fácil a tarefa de enfrenta-lo e vencê-lo.

Conhecer a si mesmo, já não é tarefa tão simples. Muitos vivem a ilusão de se conhecer, mas poucos realmente atingem um grau mais profundo de autoconhecimento.
 Não me refiro a pessoas normais que tem a cabeça constantemente envolta em pensamentos, ora no passado, ora no futuro, raramente no presente, mas ainda assim, pensando incessantemente. Refiro-me a chegar ao âmago do nosso autoconhecimento, um estado de silêncio interno onde conseguimos ser nós mesmos, não nossos pensamento.

O momento em que, livre dos pensamentos, atingimos a plena consciência de nós mesmos.
Pensamento e consciência não são sinônimos. O pensamento é um pequeno aspecto da consciência. O pensamento não pode existir sem a consciência, mas a consciência não necessita do pensamento; pelo contrário, é sufocada por ele.(1)
O silêncio é o momento da mente vazia,  da consciência, sem pensamentos.

Mas como encontrar o silêncio? Esta é a parte mais difícil, pois a mente está sempre repleta de pensamentos que vem com muita rapidez. A mente não consegue ficar em silêncio. (2)
É do interior da mente que perguntamos: como conseguir o silêncio? Não haverá silêncio algum, pois a mente estará pondo fim ao silêncio. A mente é um estado mental que, no final das contas, é a causadora de muitos problemas. Isso não quer dizer que a mente não tenha um propósito. Na verdade ela é feita de propósitos e pode ser usada para uma infinidade de coisas. Ficar em silêncio, porém, não é uma delas.

A verdade é que acabamos transformando-nos em mentes. Quando acordamos, não entramos na realidade, pois a mente imediatamente assume o controle de tudo. O verdadeiro despertar, não visa alcançar um certo estado da mente; visa alcançar um estado de ausência da mente, um estado de auto consciência – o lugar do silêncio.

Mas qual é este “lugar do silêncio”? Difícil de responder; mas às vezes, sem nos darmos conta, vemo-nos numa situação cotidiana, sem fazer nada em especial e sem nenhum pensamento na mente, muitas vezes apenas a contemplar uma bela paisagem.

A mente é apenas a série de nossos pensamentos; não é substância; é mera procissão de pensamentos; nenhum dos quais significa absolutamente nada até o agarrarmos e fazermos algo com ele. Esteja atendo a esses momentos em que não há pensamentos, isso é o silêncio.

Mas os pensamentos movem-se com muita rapidez; como achar um intervalo entre eles? Não sei, mas uma coisa é certa, os intervalos estão lá. Quanto mais consciente nos tronamos desses momentos de não pensamento, mais familiares e mais fácil será sustenta-los. Aquele intervalo realmente é você.

Mas se você achar que atingiu o silêncio, isso é novamente um pensamento e, onde houver um pensamento, você não poderá estar.

Então, quando atingir este estado de silêncio, não analise, apenas sinta. Senão a mente novamente assume o comando e voltamos a ser controlados por nossos pensamentos.




(1)   – Eckhart Tolle

(2)   – Philip Dun