sexta-feira, 3 de abril de 2015

KI - A ENERGIA VITAL



O KI E O AIKIDO


Existe em cada um de nos uma energia vital que impregna nosso corpo e mente e que nos mantém vivos e ativos. Uma energia que nos dá forças para a prática de atividades físicas, ou pura e simplesmente executar nossas atividades diárias.
Para os Japoneses, a energia se chama KI, para os chineses CHI, para os Indus PRANA, e assim por diante.
Contudo, o conceito oriental de KI, como sendo uma energia universal, não antropomórfica1, livre e que permeia todas as coisas, o tempo todo, é de difícil compreensão para nossa cultura ocidental, ou nossa formação científica. Através deste conceito, esta energia emana das montanhas, das águas, florestas, etc., conceito este que, em antropologia, é conhecido como animatismo2.
Do ponto de vista da física clássica, energia é qualquer coisa capaz de produzir força ou trabalho (movimento). Assim, a energia eólica faz mover os moinhos, a energia térmica faz mover as máquinas a vapor e assim por diante, até chegarmos à digestão, em que o processamento dos alimentos fornece energia aos músculos, produzindo força e movimento.
Ainda segundo a cultura oriental, o kanji para a palavra KI, é formado por dois elementos, um representando “arroz”, o outro “vapor”. Isto remete à ideia de que o Ki estaria relacionado com o alimento (arroz cozido). Sob a luz da ciência, a energia que movimenta o corpo é proveniente da alimentação, que, pelo processo da digestão, converte o amido em maltose, glicose, chegando, por fim a moléculas de Trifosfato de Adenosina – ATP, que, juntamente com o oxigênio, obtido pela respiração, fornece a energia necessária ao funcionamento das células. Desta forma, uma pessoa bem alimentada e com regular capacidade muscular, é, consequentemente, dotada de muita energia.
Isto, guardada as devidas proporções, coincide, em parte, com a ideia original de KI, neste caso não uma energia que se encontra em todas as coisas, mas pelos menos em todos os seres fortes e bem nutridos.
O KI é um conceito muito presente na prática do Aikido; eu diria até que é um dos fundamentos e um dos princípios mais importantes desta Arte Marcial.  Os praticantes de Aikido, estudam a energia interna do corpo, que quando desenvolvida, expandida e corretamente direcionada, através dos treinos e da prática constante, lhes permitiria controlar, de forma mais satisfatória, seus oponentes, tornando suas técnicas mais elegantes, leves e, conseqüentemente, eficientes.
Tentar praticar Aikido sem pensar em desenvolver e aplicar esta energia, acabaria transformando o praticante num mero executor de técnicas, fazendo-as de modo mecânico e ineficiente. No outro extremo, um praticante que se preocupa excessivamente em desenvolver e controlar esta energia, dando pouca atenção à técnica, acabaria por acreditar que poderia imobilizar ou controlar seus oponentes apenas com sua energia, praticamente sem contato físico. Nenhum dos extremos caracteriza a boa prática do Aikido. Um conceito do Taoísmo nos ensina que a verdadeira sabedoria consiste em seguir o “caminho do meio”, afastando-nos dos extremos.
Então, se todas as pessoas são dotadas de muita energia, o que diferencia uma pessoa normal do praticante avançado de Aikido, de quem se diz ter expandido seu KI e consegue, com esta energia, facilidade e eficiência na aplicação das técnicas?
Isso não só para o Aikido, mas para qualquer outro atleta que se sobressai de maneira brilhante em seu esporte.
Eu faria uma comparação grosseira do KI com a luz! A luz é formada por ondas eletromagnéticas, que se propagam no espaço. Sob este ponto de vista, uma pessoa normal, ou um iniciante em Aikido, seria igual a uma lâmpada; embora dotado de bastante energia, sua luz (ou as ondas eletromagnéticas) se propaga aleatoriamente em todas as direções. Já um praticante avançado, seria igual a um raio laser, onde as ondas eletromagnéticas não mais se propagam ao acaso, mas são agrupas e direcionadas em um único feixe de luz, com uma eficiência incrível. A título de exemplo, uma lâmpada de 100 W é capaz de iluminar satisfatoriamente uma sala pequena; um laser de 100 W tem uso militar, com capacidade de destruição muito grande.
Pense em um lançador de dardo; no momento do arremesso, toda sua energia está concentrada no ato de arremessar o dardo com força e na direção correta; daí vem os recordes.
Certamente, qualquer que seja a atividade, o caminho exige muito treino; no Aikido não mais executar a técnica de forma mecânica, tentando apenas imitar os movimentos do Sensei, mas mudando o enfoque da prática, dando mais ênfase ao controle da respiração durante sua aplicação, à energia envolvida na técnica, tentando direcioná-la no sentido do esforço do oponente e não mais tentando aplicá-la onde você havia planejado.
Mas não é só na prática de artes marciais ou esportes que esta energia pode ser utilizada; em qualquer das atividades do dia a dia, conseguir focar suas energias em um determinado trabalho, concentrá-la em alguma atividade, fará com que os resultados obtidos superem as expectativas e se tornem mais fáceis e eficientes.
Em resumo: O Ki está dentro de nos! Encontrá-lo e desenvolvê-lo depende de nossa capacidade de seguir o Caminho, desenvolvendo nosso auto conhecimento e direcionando nossa energia para usá-la de forma mais efetiva.


Finalizando, vale citar as palavras do Sensei Mitsug Saotome:

 “ O treinamento para desenvolver um Ki forte, não é o treinamento do Caminho; que o Ki seja forte ou fraco é irrelevante, pois o forte pode ser mau e o fraco bom. A única característica a ser buscada no KI, a única realmente importante é a pureza.”


[1] -Antropomorfismo é uma forma de pensamento que atribui características ou aspectos humanos a Deus, deuses, elementos da natureza, animais e constituintes da realidade em geral.


2 - Animatismo - A mais primitiva das concepções sobrenaturais, atribui a todas as pessoas, animais e coisas que existem uma entidade sobrenatural que as anima e controla. O termo foi introduzido por Marrei (1866-1943).

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