sábado, 18 de abril de 2015

O CAMINHO



O CAMINHO


Muitos que tiveram algum contato com as filosofias orientais, já ouviram falar alguma vez sobre o “Caminho”; conceito meio abstrato, etéreo. Não se trata de algo físico, que possa ser visto ou tocado, mas também não é algo que dependa de algum tipo de crença ou fé, para ser alcançado. É algo que se refere a seguir determinado modo de viver ou se comportar, visando alcançar uma evolução espiritual.
Não é uma coisa que possa ser seguida por qualquer pessoa; talvez só por aquela que se empenhem na busca constante do autoconhecimento.
Segundo o Taoismo, o TAO ou Caminho é uma coisa que não pode ser definida.
Pode ser que não, mas dá para pensar um pouco a respeito e tentar entender um pouco melhor esse difícil conceito.
Começo pelas artes marciais; muitas delas tem em seu nome a palavra DO, que em japonês significa Caminho (não no sentido de uma estrada, via, ou mesmo uma trilha); assim, temos o Aikido, Judo, kendo, etc. Em todas elas, o termo DO quer dizer que o praticante deve seguir um Caminho para o aprendizado ou evolução; deve direcionar seu treinamento, sua conduta e comportamento visando uma evolução pessoal/espiritual.
Não seguir o Caminho, seria treinar técnicas de forma aleatória, sem um objetivo ou meta, o que não levaria a resultados muito efetivos.
Mas isso é pouco para se entender o conceito, o Caminho é mais do que uma simples conduta, método de treinamento ou comportamento.
Para avançar um pouco, é preciso se aprofundar um pouco mais nas filosofias orientais:
A filosofia oriental identifica duas forças: Yang e Yin, positivo e negativo, macho e fêmea, o sol e a lua, etc.; tudo tem seu par. Não há prazer sem dor, não há amor ser ódio, não há força sem fraqueza, não há vitória sem fracasso.
Porém, o discernimento racional vê os extremos como opostos, uma dicotomia na qual estes opostos estão em conflito. As ilusões desta dualidade precisam ser desmascaradas para que a espontaneidade da verdade possa se manifestar.(1)
Isso porque estas coisas que vemos como opostos são, na verdade, complementares; como as duas faces de uma mesma moeda; amor e ódio, alegria e tristeza, prazer e dor, etc.; um não existe sem o outro.
Cada um de nós traz o conflito e a criatividade dentro de si como duas forças naturais. Uma vida bem vivida não se resume a ser criativo ou destrutivo, mas exige um fluxo constante entre estes dois pontos.
Devemos aceitar o fluxo natural que nos conduz por meio de todos os elementos da vida: da força à fraqueza do amor ao ódio, da dúvida à certeza.
A consciência, que provoca o relaxamento e, portanto, a paz, está no interior do próprio fluxo.
A consciência e, consequentemente, a paz está obscurecida em qualquer um dos dois extremos desses fluxos, ao passo que as benesses da consciência ficam plenamente a nossa disposição quando fluímos ao longo do Caminho do meio, jamais permanecendo num ou noutro extremo.
No entanto, fluir pelo Caminho do meio não é reprimir os extremos. Ao indicar o Caminho, não estamos proibindo os inúmeros campos que existem dos dois lados. Acontece que os campos da alegria e do sofrimento assumem um aspecto diferente quando estamos confortáveis e relaxados no Caminho do meio, da atenção consciente.
As flores e os espinhos ficam bem mais visíveis quando não estamos afundados no meio deles.(2)
É uma bela descrição de como seguir o Caminho, mas muito pouco esclarece sobre como chegar a ele ou o que ele realmente é.
Acho que foi só com minhas experiências do tempo em que era montanhista, que comecei a vislumbrar levemente o conceito. As vezes caminhava-se muitos dias para se chegar a algum lugar, a um cume; no mais das vezes a decepção era grande, pois o lugar a que se chegava não tinha nada de especial, as vezes era até mesmo sem graça.
Com o tempo, fui percebendo que o que me encantava não era chegar aos lugares distantes, mas sim percorrer o caminho até eles; aos poucos fui prestando mais atenção às belezas do percurso e ao modo como eu passava a interagir com elas; belas fotografias começaram a ser tiradas de coisas lindas, mas que eu nunca havia prestado atenção; deliciosos banhos de cachoeira nas tardes quentes, onde nunca havia parado para não perder tempo; o companheirismo dos amigos que seguiam junto, mas que nunca havia sido devidamente valorizado; etc.
Isso, aos poucos foi mudando minha forma de encarar uma atividade que eu adorava, mas que até então não conseguia desfrutar em sua plenitude, por estar com o foco no local errado.
Hoje o Caminho que sigo como praticante de Aikido e que mudou minha vida é bem diferente, mas com certeza essas experiências foram, para mim, a descoberta da porta de entrada do Caminho.
É, com certeza o Taoísmo está certo: o Caminho é uma coisa que não pode ser definida, mas pode ser percorrido por aqueles que se predisponham a se empenhar em desenvolver o autoconhecimento, com disciplina, concentração e determinação.


Referência:

1- Mitsug Saotome

2- Philip Doon

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