O CAMINHO
Muitos que tiveram
algum contato com as filosofias orientais, já ouviram falar alguma vez sobre o “Caminho”;
conceito meio abstrato, etéreo. Não se trata de algo físico, que possa ser
visto ou tocado, mas também não é algo que dependa de algum tipo de crença ou
fé, para ser alcançado. É algo que se refere a seguir determinado modo de viver
ou se comportar, visando alcançar uma evolução espiritual.
Não é uma
coisa que possa ser seguida por qualquer pessoa; talvez só por aquela que se
empenhem na busca constante do autoconhecimento.
Segundo o
Taoismo, o TAO ou Caminho é uma coisa que não pode ser definida.
Pode ser que
não, mas dá para pensar um pouco a respeito e tentar entender um pouco melhor
esse difícil conceito.
Começo pelas
artes marciais; muitas delas tem em seu nome a palavra DO, que em japonês
significa Caminho (não no sentido de uma estrada, via, ou mesmo uma trilha);
assim, temos o Aikido, Judo, kendo, etc. Em todas elas, o termo DO quer dizer
que o praticante deve seguir um Caminho para o aprendizado ou evolução; deve
direcionar seu treinamento, sua conduta e comportamento visando uma evolução
pessoal/espiritual.
Não seguir o Caminho,
seria treinar técnicas de forma aleatória, sem um objetivo ou meta, o que não
levaria a resultados muito efetivos.
Mas isso é
pouco para se entender o conceito, o Caminho é mais do que uma simples conduta,
método de treinamento ou comportamento.
Para avançar
um pouco, é preciso se aprofundar um pouco mais nas filosofias orientais:
A filosofia
oriental identifica duas forças: Yang e Yin, positivo e negativo, macho e
fêmea, o sol e a lua, etc.; tudo tem seu par. Não há prazer sem dor, não há
amor ser ódio, não há força sem fraqueza, não há vitória sem fracasso.
Porém, o
discernimento racional vê os extremos como opostos, uma dicotomia na qual estes
opostos estão em
conflito. As ilusões desta dualidade precisam ser
desmascaradas para que a espontaneidade da verdade possa se manifestar.(1)
Isso porque
estas coisas que vemos como opostos são, na verdade, complementares; como as
duas faces de uma mesma moeda; amor e ódio, alegria e tristeza, prazer e dor,
etc.; um não existe sem o outro.
Cada um de
nós traz o conflito e a criatividade dentro de si como duas forças naturais.
Uma vida bem vivida não se resume a ser criativo ou destrutivo, mas exige um
fluxo constante entre estes dois pontos.
Devemos
aceitar o fluxo natural que nos conduz por meio de todos os elementos da vida:
da força à fraqueza do amor ao ódio, da dúvida à certeza.
A consciência,
que provoca o relaxamento e, portanto, a paz, está no interior do próprio
fluxo.
A consciência
e, consequentemente, a paz está obscurecida em qualquer um dos dois extremos
desses fluxos, ao passo que as benesses da consciência ficam plenamente a nossa
disposição quando fluímos ao longo do Caminho do meio, jamais permanecendo num
ou noutro extremo.
No entanto,
fluir pelo Caminho do meio não é reprimir os extremos. Ao indicar o Caminho,
não estamos proibindo os inúmeros campos que existem dos dois lados. Acontece
que os campos da alegria e do sofrimento assumem um aspecto diferente quando
estamos confortáveis e relaxados no Caminho do meio, da atenção consciente.
As flores e
os espinhos ficam bem mais visíveis quando não estamos afundados no meio deles.(2)
É uma bela
descrição de como seguir o Caminho, mas muito pouco esclarece sobre como chegar
a ele ou o que ele realmente é.
Acho que foi
só com minhas experiências do tempo em que era montanhista, que comecei a
vislumbrar levemente o conceito. As vezes caminhava-se muitos dias para se
chegar a algum lugar, a um cume; no mais das vezes a decepção era grande, pois
o lugar a que se chegava não tinha nada de especial, as vezes era até mesmo sem
graça.
Com o tempo,
fui percebendo que o que me encantava não era chegar aos lugares distantes, mas
sim percorrer o caminho até eles; aos poucos fui prestando mais atenção às
belezas do percurso e ao modo como eu passava a interagir com elas; belas
fotografias começaram a ser tiradas de coisas lindas, mas que eu nunca havia
prestado atenção; deliciosos banhos de cachoeira nas tardes quentes, onde nunca
havia parado para não perder tempo; o companheirismo dos amigos que seguiam
junto, mas que nunca havia sido devidamente valorizado; etc.
Isso, aos
poucos foi mudando minha forma de encarar uma atividade que eu adorava, mas que
até então não conseguia desfrutar em sua plenitude, por estar com o foco no
local errado.
Hoje o Caminho
que sigo como praticante de Aikido e que mudou minha vida é bem diferente, mas
com certeza essas experiências foram, para mim, a descoberta da porta de
entrada do Caminho.
É, com
certeza o Taoísmo está certo: o Caminho é uma coisa que não pode ser definida,
mas pode ser percorrido por aqueles que se predisponham a se empenhar em
desenvolver o autoconhecimento, com disciplina, concentração e determinação.
Referência:
1- Mitsug Saotome
2- Philip Doon
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