A COMPETIÇÃO NAS
ARTES MARCIAIS
Desde que o
homem se fixou à terra para cultivá-la, começou a acumular riquezas, que
passaram a despertar a cobiça de outras pessoas, obrigando o produtor a
desenvolver métodos de defesa que garantissem a segurança sua e de seus bens.
Posteriormente,
nos campos de batalha esses métodos de defesa evoluíram pela necessidade dos
guerreiros de desenvolverem e aperfeiçoarem métodos de combate ou de defesa,
que aumentasse suas chances de sobreviver aos conflitos.
Assim
surgiram as diversas artes marciais que hoje conhecemos, todas elas criadas e
desenvolvidas para enfrentar algum tipo de conflito.
Nos tempos de
paz, essas técnicas eram ensinadas em escolas especializadas, onde as pessoas
buscavam esses ensinamentos, muitas vezes com o objetivo de assimilarem seus
conceitos, melhorarem a auto disciplina ou pura e simplesmente de aprender um
tipo de defesa pessoal.
Talvez por
influência da cultura ocidental, muitas artes marciais passaram a ser
praticadas como competição, muitas até virando esportes olímpicos.
Isso, porém,
descaracterizou estas artes marciais como método de defesa pessoal passando a
ser uma mera competição.
Um texto de
Mitsug Saotame, compara essa degradação sofrida em função dessa mudança de
enfoque em algumas artes marciais, com aquelas que ainda são baseadas em um
Budô (como o Aikido):
“... Adestrar-se
no budô é estudar a realidade. A verdade da realidade não pode ser percebida
por um coração repleto de questões sobre vitória ou derrota.
Quando o
objetivo do adestramento é vencer, desenvolve-se uma consciência esportiva.
Torna-se um jogo, não a realidade. Tem de haver regras pra proteger os
competidores e o resultado nada decide.
Eis as únicas
perguntas feitas na competição: Quem é o mais forte, segundo as regras? De quem
é a técnica mais fulminante, segundo as regras? Nunca conheceremos o verdadeiro
eu por meio da competição, pois jamais conheceremos as nossas verdadeiras
reações, mas apenas a nossa estratégia.
Quando se
está à beira do castigo supremo, quando a única resposta é a vida ou a morte, a reação – portanto o
resultado – é completamente diferente. Livre de regras, sendo a sobrevivência a
única consideração, os muito fracos podem tornar-se muito fortes e os muito
fortes, podem perder a sua força, em virtude do medo.
Quando a vida
não está em jogo, é fácil esquecer que a força física e a habilidade técnica
tem limites. O ego quer esquecer essas limitações e agarrar a oportunidade de
crescer numa proporção surreal. A verdade se perde e o treinamento se distorce.
A força
espiritual do treinamento do Budô desaparece quando a questão de vida e morte
não é relevante. Se você se apega à vitória, como renunciará ao apego à vida e
à morte? Como renunciará ao ego para penetrar na mente do inimigo?
O Budô não é
esporte. É um caminho, uma atitude de vida.”...
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