O MITO DE MIYAMOTO
MUSASHI
Muitos
praticantes de artes marciais veneram a figura de um famoso espadachim do Japão
medieval, chamado Miyamoto Musashi (1584? – 1654), de quem dizem ter sido o
maior Samurai que já existiu, não tendo nunca perdido um duelo. Esses
admiradores ressaltam as virtudes e qualidades quase divinas deste espadachim, tomando-o
como exemplo a ser seguido e venerando-o como a um Deus.
Porém, a
coisa pode não ser bem assim. A história de Musashi é um pouco diferente
daquela idealizada por seus admiradores. Talvez, influenciada pelo romance de
Eiji Yoshikawa que em vez de retratar a vida desse espadachim, mistura romance
e ficção, distorcendo a realidade dos fatos.
Para começar,
o maior espadachim do Japão medieval, pode ter sido Yagyu Munenori, instrutor
de combate com espadas e membro da guarda pessoal de três gerações do clã
Tokugawa (os Shoguns: Ieyasu, Hiderada e Nobuyasu).
Em uma
passagem, durante o cerco ao castelo de Osaka, um grupo de vinte ou trinta
homens do inimigo surpreendeu e invadiu o acampamento de Tokugawa Hiderada; os
homens do Shogun foram surpreendidos, enquanto os invasores rapidamente se
dirigiam ao Shogun. Ali, entretanto, eles confrontaram um Samurai de meia idade
que aguardava calmamente em frente ao cavalo do Shogun; o homem deu um passo à
frente e, com incrível rapidez, destreza e graça, matou sete atacantes, dando
aos guardas do Shogun tempo para se reagruparem
e contra atacar os inimigos; este samurai era Yagyu Munenori.(1)
Outro fato
que desqualifica e desmoraliza completamente Musashi como Samurai, foi o ocorrido
na batalha de Sekigahara; Musashi lutava do lado dos Toyotomi (lado que perdeu
a batalha) e teve que fingir-se de morto para sobreviver(2). Ora, isso
é inadmissível a um Samurai, para quem a honra está acima de qualquer coisa e
para o qual é preferível morrer a conviver com a desonra.
Um Samurai
sempre teve um especial cuidado com o asseio e a aparência; antes de partir
para um combate, cortava as unhas, banhava-se e perfumava-se; se fosse morto em
combate, não queria que o oponente pensasse que ele era um qualquer.
Musashi, ao
contrário, vestia-se e portava-se feito um mendigo, não se importava com a
roupa que usava e raramente penteava os cabelos. Não tomava banho, pois dizem
que nunca largava as espadas para nada.(2)
Passava
longos períodos vivendo no meio da mata, em condições duríssimas, testando seus
limites.
Outro fato
que compromete sua honra (se é que um dia a teve) envolve a morte, em duelo, de
um jovem de 13 anos da família Yoshioka. Musashi desafiou e venceu vários
membros da família, até que sobrou apenas o garoto para enfrenta-lo; Musashi
deveria ter poupado a vida de um simples criança, mas ao contrário, matou-o e
fugiu de vários outros membros da academia Yoshioka, numa fuga alucinada. Por
mais essa desonra, Musashi deveria ter cometido seppuku.
No fim de sua
vida, no entanto, Musashi foi viver como eremita em uma caverna, onde
dedicou-se a escrever um dos mais fantásticos livros sobre tática e estratégia,
intitulado: “O Livro dos 5 Anéis”, comparável ao “A Arte da Guerra “ de Sun
Tsu, ou ao “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel. Por esta maravilhosa obra, sim, o
reverencio.
1-
A ESPADA QUE DÁ VIDA – Editora Cultrix
2-
MUSASHI – Karem Gimenez – Editora Abril
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