quarta-feira, 10 de abril de 2024


A PRAGA DE RATOS

  

Em uma ilha paradisíaca, a vida selvagem vivia em perfeita harmonia, com grande parte dos animais se alimentado dos abundantes cocos da ilha; esse equilíbrio foi quebrado, com a chegada de ratos vindos de navios estrangeiros.

Os roedores logo se multiplicaram na ilha, passando a devorar a maior parte dos cocos que servia de alimento à fauna local.

Os moradores tentaram combater esta nova praga, matando tantos ratos quanto fosse possível, mas estes se reproduziam em uma velocidade muito grande, tornado a tarefa impossível.

Um dia, um forasteiro visitando a ilha e sabendo do problema, propôs uma solução: mandou fazer uma grande caixa metálica, com uma pequena abertura superior, por onde os ratos pudessem entrar, mas não conseguissem sair; colocou, então, alguns cocos e outros alimentos dentro da caixa, sendo que essa logo se encheu de ratos, que foram atraídos pela comida.

Em pouco tempo, os alimentos da caixa foram consumidos e se acabaram; com o passar do tempo, desesperados de fome, os roedores passaram a brigar entre si e a devorarem-se uns aos outros, até que só sobraram algumas dezenas deles, os mais fortes.

Neste momento, o forasteiro mandou que soltassem todos os ratos da caixa; os nativos estranharam, temendo o aumento da praga de ratos, mas o forasteiro explicou:

- Esses ratos agora não comem mais cocos, comem ratos.

E assim esses ratos passaram a devorar os outros da ilha, até sobrarem somente os dois mais fortes, que lutaram entre si, até a morte.

 

terça-feira, 9 de abril de 2024

 



YETIS, PÉS GRANDES E OUTRAS LENDAS.

 

 

Muitas lendas e relatos sobre avistamentos do Yeti, o abominável homem das neves, do Pé Grande e de outras criaturas lendárias têm ocorrido ao longo dos tempos.

Com frequência surgem relatos de que foram avistados Pés Grandes em regiões remotas dos Estados Unidos e noroeste do Canadá, especialmente na Colúmbia Britânica; já os Yetis, supostamente foram vistos em regiões do Himalaia e dos Montes Urais.

Sei que, muito provavelmente, não passam de lendas, mas, de vez em quando, gosto de deixar minha mente divagar e viajar em pensamentos etéreos.

Segundo Yuval Noah Harari, em seu excelente livro “Sapiens – Uma Breve História da Humanidade” (o qual recomendo a leitura) há 100 mil anos, havia na Terra, além do Homo sapiens, outras espécies humanas diferentes, espalhada por diversos continentes, como o Homo soloensis (extinto há 50 mil anos) na ilha de Java, o Homo floresiensis (extinto há 12 mil anos) na pequena ilha das Flores o Homo denisova (extinto há 50 mil anos) na Sibéria e o Homo neanderthalensis (extintos há 30 mil anos) na Europa, dentre outros.

Os sapiens surgiram na áfrica Oriental há aproximadamente 200 mil anos. A partir de 70 mil anos atrás, começaram a se espalhar pelo mundo, chegando à península Arábica e de lá rapidamente tomaram o território da Eurásia; primeiro chegaram à Ásia, há 60 mil anos, depois à Europa e Austrália há 45 mil anos e finalmente à America do Norte há 16 mil anos.

Segundo o mesmo autor, todas as outras espécies foram extintas, com a chegada do sapiens ao local onde elas viviam. A teoria mais aceita é a de que todas essas espécies foram simplesmente exterminadas pelo Homo sapiens, que por causa de uma competição por recursos naturais, irromperam uma onda de violência e genocídio.

A tolerância não é uma marca registrada dos sapiens; se hoje, pequenas diferenças em cor de pele, dialeto ou religião são motivos para guerras, naquela época não deve ter sido diferente.

Até aqui, tudo são fatos, pesquisados por cientista e compilados no livro citado.

Agora, usando um pouco a imaginação: imagine o terror causado a essas outras espécies humanas ao verem um bando de sapiens chegando, ferozes, agressivos, dominadores e cruéis, com uma tendência a matar todos que fossem diferentes deles, ou que competissem pelos mesmos recursos naturais.

O pânico deve ter sido total; estas espécies não sapiens, com certeza fugiam para outras regiões, na tentativa de se protegerem desses invasores violentos. Mas a expansão dos sapiens não parou, ocupando cada vez mais territórios e aniquilando cada vez mais membros das outras espécies.

Em função disso, é possível que pequenos grupos tenham se refugiado em regiões remotas, de difícil acesso, adotando hábitos noturnos, furtivos e fugidios, para evitar encontros ou confrontos com os sapiens, que, como imaginavam, os exterminariam sem piedade.

Alguns desses grupos, fugindo do sapiens, podem ter cruzado o Estreito de Bering, durante a última era glacial, que começou há aproximadamente 20 mil anos, e se estabelecido em regiões remotas da Colúmbia Britânica; outro grupo, talvez mais resistente ao frio, pode ter fugido e se refugiado nas entranhas o Himalaia; protegidos por este isolamento, pequenos grupos dessas espécies bem que poderiam ter sobrevivido até os dias atuais.

E por que não?


sexta-feira, 10 de março de 2023

 


IKKYO, O MOMENTO DA VERDADE

 Muitas vezes ouvi colegas graduados falarem que aprender a técnica IKKYO é trabalho para uma vida inteira.

Achei estranho; o IKKYO é uma das técnicas mais fáceis de serem aplicadas, tanto que é utilizada no exame para 5º KYU (faixa amarela).

De onde teria vindo tal ideia?

 Talvez algum deles tenha ouvido apenas parte de alguma conversa de Kawai Sensei, que falava muito mal o português, onde ele teria dito:

 - ...aprender Ikkyo vida toda, né...

 Foi apenas lendo o livro “Los Princípios Del Aikido” de Mitusg Saotome, que comecei a entender um pouco o sentido da coisa.

 É que, além de o primeiro princípio, o termo também se refere ao primeiro momento da aplicação da técnica; o primeiro contato (físico) com o oponente, o DE-AI; e a partir desse primeiro contato, como passamos a dominá-lo, controlando o centro do ataque e assumindo o controle da técnica, não se atendo aos movimentos específicos para executá-la.

Este é o princípio básico do IKKYO – KURAI DORI – controlar o espírito do inimigo.

 Foi só através do estudo de outro livro do autor: “O Aikido e a Harmonia da Natureza”, que pude entender um pouco mais o conceito.

 Neste momento do contato há que haver uma sincronia perfeita; acelerar o processo destrói essa sincronia.

 É fácil compreender por que, na sincronia, a lentidão excessiva deve ser evitada; estamos postados na linha de ataque, vulnerável ao golpe.

Entretanto, se iniciarmos o movimento muito cedo, antes que o ataque se complete, a vantagem ficará com o inimigo.

Mesmo que o movimento seja impecável em sua execução técnica, a nossa posição se revelou. A esta altura a direção do ataque pode ser mudada facilmente; o inimigo acompanhará e acertará o golpe.

A sincronia perfeita consiste em encontrar o inimigo de sorte a ficar frente a frente com sua fraqueza. É quando da plenitude do ataque que ele se torna mais vulnerável, porque está inteiramente concentrado no ato de atacar; todo o poder e energia de seu corpo e espírito estão nesse ato; a direção foi decidida e já não pode ser alterada. O momento de maior força é o momento de maior fraqueza.

Assim, só devemos estabelecer o contato inicial para a aplicação da técnica, uma fração de segundo antes de o golpe nos acertar.

Devemos juntar-nos abertamente a esse ritmo, sem medo, sem apego à vida, preparados para morrer.

Isso realmente não é fácil, depende de muito, muito treino; talvez uma vida inteira...


sábado, 3 de setembro de 2022


 

AS 7 VIRTUDES DO BUDO

 

 

BUDO é uma palavra composta pelo termo “BU”, que significa guerra ou arte marcial, e por “DO”, que significa “caminho”, no sentido de um modo de viver ou de se comportar, visando o aprimoramento pessoal e espiritual, na busca pelo SATORI, a iluminação.

Então BUDO seria a busca deste aprimoramento pessoal e espiritual através da prática de uma arte marcial.

Eu costumo chamar o praticante de artes marciais, que segue os conceitos do BUDO, de Guerreiros da Paz.

Ao conceito de BUDO, são atribuídas 7 virtudes, sendo elas:

 

 JIM – Benevolência

GI – Honra ou Justiça

REI - Cortesia e Etiqueta

CHI – sabedoria, inteligência

SHIN – Sinceridade

CHU – Lealdade

KOH - Piedade

 

 Em relação ao praticante de AIKIDO, podemos entender como:

 JIM - Benevolência – o seguidor do BUDO demonstra bondade ou boa vontade em relação a outras pessoas, revelando altruísmo e empatia;

 GI - Honra ou Justiçatem uma conduta proba, virtuosa, corajosa que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade; é justo em suas ações;

 REI - Cortesia e Etiqueta – trata os outros com educação, sendo amável e polido;

 CHI sabedoria, inteligência - com um conhecimento extenso e profundo, está sempre aprendendo e se adaptando a novas situações;

 SHINSinceridade – o Guerreiro da Paz adota sempre uma conduta franca, verdadeira e leal, dizendo sempre o que realmente pensa ou sente, mesmo sabendo que isso pode trazer prejuízos;

 CHULealdade – sempre fiel a seus princípios, tem na gratidão (GIRI) e no companheirismo sua maior virtude; dedicado a seu DOJO e seus SENSEIS, é confiável e honra seus compromissos;

 KOHPiedade – em situações de confronto, tem plena consciência de que não precisa vencer ou destruir o oponente, mas pura e simplesmente interromper o conflito e exigir a paz.

 Não por coincidência, nosso HAKAMA possui 7 pregas, que representam esta 7 virtudes do BUDO. Talvez só o possamos usar a partir da faixa preta (SHODAN), porque só então, após anos de dedicação e treinamento, começamos a nos familiarizar com esses conceitos; a partir deste ponto, contudo, passamos nos aprofundando em seus conceitos cada vez mais.

 

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

 

A PERVERSÃO DA IGREJA CATÓLICA

 

Não é minha intenção, aqui, criticar ou questionar a crença, os dogmas ou doutrinas do Cristianismo; as mensagens e os ensinamentos de Jesus Cristo sempre foram sagrados e nortearam a vida de milhões de pessoas, dando-lhes amparo, conforto e, muitas vezes, um sentido na vida.

Minha questão é com a entidade que se apoderou desta religião, usando-a como o mais perfeito modo de dominação; tornando-se uma das mais perniciosas instituições; dominadora, cruel, rica e poderosa: a Igreja Católica.

Mas vamos ao começo: quando Jesus nasceu, toda a Judeia (atual Palestina) padecia sob a ocupação do Império Romano havia pouco mais de 63 anos.

Era comum na época, pessoas descontentes com essa ocupação juntarem alguns seguidores para protestar contra a dominação romana. E foi assim também com Jesus. Suas mensagens espalharam-se rapidamente por toda a Palestina e seus seguidores passaram a ser implacavelmente perseguidos.

Após sua crucificação, a perseguição aos seguidores, já chamados de cristãos, se intensificou bastante; não só pelos romanos, mas agora pelos próprios judeus, que não aceitava a ideia de Jesus como o novo Messias e acusavam seus seguidores de heresia e traição às leis de Moisés.

O cristianismo começou a ser deturpado por Paulo (mais tarde São Paulo), antigo perseguidor de cristãos, que acabou se convertendo à nova religião no ano 70 d.C. (37 anos após a crucificação). Segundo consta, após a conversão, ele teria escrito os evangelhos atribuídos Mateus e Marcos e depois, o atribuído a João e dado início, também, à doutrina da Santíssima Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo).

Como se vê, grande parte da doutrina do Cristianismo foi mais uma interpretação dada por Paulo, muitos anos após a ocorrência dos fatos, do que realmente a palavra de Jesus, transmitidas pelas escrituras de seus apóstolos.

Naquela época, diversas interpretações da doutrina cristã e outras religiões pagãs se faziam presentes no Império Romano; os romanos, no entanto, não aceitavam a ideia da existência de um só Deus; por isso os cristãos continuaram a ser perseguidos em Roma.

A perseguição aos cristãos encerrou-se a partir de 313 com o Édito de Milão, assinado pelo imperador Constantino, que se converteu à nova religião. 

Até aqui tudo bem, o Cristianismo era mais uma religião que arregimentava cada vez mais seguidores e espalhava sua fé.

Foi através do Concílio de Niceia, em 325, que se assentaram as bases religiosas e ideológicas da Igreja Católica Apostólica Romana.

Após as invasões dos povos germânicos (bárbaros) e com a crescente crise e decadência do Império Romano, a Igreja Católica aliou-se aos bárbaros, cristianizando-os, e assim, dominou e conquistou os vastos territórios ocidentais do Império Romano.

Numa época em que a riqueza era medida pela quantidade de terras, a Igreja chegou a ser proprietária de quase dois terços das terras da Europa ocidental.

Ajudou muito a prática da “venda de indulgências”, através da qual todo e qualquer pecado poderia ser perdoado por Deus; bastava, para isso, uma generosa doação do pecador à igreja, normalmente efetuado em ouro ou em terras; isto tornou a Igreja Católica uma das instituições mais ricas do mundo. Outra prática comum era acusar alguém de heresia, apenas para confiscar suas terras.

Através da centralização de seus princípios e da formulação de uma estrutura hierárquica, a Igreja teve condições suficientes para alargar o seu campo de influências durante a Idade Média, tendo papel preponderante na formação do feudalismo; além de grande proprietária de terras, estruturou a visão de mundo do homem medieval, tornando-se a instituição mais poderosa da época.

Difundiu a ideia do temor a Deus, do pecado, da culpa, das agruras do inferno, onde os pecadores queimariam por toda a eternidade; novamente o medo era a forma da Igreja Católica manter seu poder. Quase tudo era considerado pecado.

A fim de manter esse poder, a Igreja Católica necessitava manter-se sempre bem informada a respeito dos acontecimentos locais, visando precaver-se contra surpresas ou infortúnios; pensando nisso, no ano de 1215, durante o IV Concílio de Latrão, foi instituída a confissão obrigatória dos pecados; confessando seus pecados a um sacerdote, esses poderiam ser perdoados por Deus, mediante o cumprimento de certas penitências.

Se hoje os segredos das confissões são invioláveis, na idade media tornou-se a mais perfeita fonte de informações que se poderia ter.

A partir daí, a Igreja Católica começou a impor sua ideologia de forma cruel e truculenta; bastava discordar de seus dogmas, para ser considerado herege.

As pessoas acusadas de heresias eram interrogadas por membros do clero, podendo ser torturadas e queimadas em fogueiras. A Santa Inquisição foi estabelecida para a efetivação do poder político da Igreja Católica; as pessoas que questionassem a fé católica eram consideradas hereges. Com essas justificativas os não católicos eram julgados pelo Tribunal do Santo Ofício, que torturaram e mataram um grande número de pessoas; os que não morriam pelas torturas, acabavam na fogueira.

A Igreja Católica não só matava, mas o fazia de forma cruel, causando o maior sofrimento possível.

No universo medieval a Igreja Católica também monopolizava o conhecimento e a ciência, dominando o campo do saber, das ciências e dos estudos filosóficos; tudo só era aceito, conforme as escrituras bíblicas.

Giordano Bruno, teólogofilósofo, escritor e matemático, foi condenado por discordar dos conceitos científicos ditados pelo clero; foi queimado na fogueira no ano de 1600.

 Em 1633, o astrônomo Galileu Galilei, considerado por muitos o criador do método científico, recebia sua sentença frente a um tribunal da Inquisição, por defender a ideia do heliocentrismo, modelo desenvolvido por Nicolau Copérnico, pouco mais de um século antes. Para não morrer na fogueira, Galileu teve que renegar, publicamente, suas ideias, sendo, mesmo assim, condenado à prisão domiciliar, além de ter sua obra “Diálogo”, incluída no Índice de Livros Proibidos do Vaticano.

Na idade média a igreja determinava o que poderia ou não ser lido; todo o conhecimento que destoava da interpretação bíblica, era considerado como herege e queimado; uma forma de bloquear o conhecimento da população.

Tudo o que se sabe hoje a respeito da cultura clássica dos povos antigos, devemos, quem diria, aos perseguidos muçulmanos, que a preservaram e a transmitiram em suas universidades no oriente médio.

A Igreja Católica começou também a considerar que o catolicismo era a única religião que poderia existir, iniciando a ideia da necessidade da conversão de povos de outras crenças ao catolicismo; isso deu origem aos maiores derramamentos de sangue da história, tudo em nome da fé.

A partir de 1095, após convocação do papa Urbano II, a Igreja Católica iniciou um movimento militar chamado de “Cruzadas para conquistar Jerusalém, o Santo Sepulcro e qualquer outro local na Palestina considerado sagrado, que estava sob o controle muçulmano.

Para justificar as Cruzadas, foi desenvolvido o conceito de Guerra Justa, que afirmava que a guerra era aceitável se fosse realizada contra os pagãos – nesse caso, os muçulmanos. Milhares de inocentes, mulheres e crianças, foram mortos em função disso.

Ao todo foram realizadas oito cruzadas ao longo de mais de cem anos.

Outra grande crise ocorreu devido ao aparecimento da peste; a peste bubônica, ou peste negra, foi um dos maiores flagelos da idade média; só na Europa, 1/3 da população foi dizimada. Uma grande parcela de culpa, pelo elevado número de mortos, pode ser atribuído à Igreja Católica. Na época, a figura de curandeiros, xamãs ou mulheres atraentes eram associadas, pelo clero, a demônios e bruxas, que enfeitiçavam os homens; havia também a crença de que os gatos eram parceiros das bruxas, a própria personificação do demônio; em função disso, foram também caçados sem piedade; isso fez com que a população de ratos aumentasse consideravelmente, estimulando a disseminação da peste, que era transmitida pelas pulgas dos roedores.

Voltando ao campo das ciências, para a igreja, a Terra era considerada plana, por uma aparente contradição com interpretações literais de algumas passagens bíblicas; por esse motivo, alardeavam que quem se aventurasse a navegar por mares desconhecidos, estava fadado a despencar pela borda da Terra, tendo um fim horrível. Terríveis monstros marinhos, também eram descritos pela igreja.

Isto fez com que as grandes navegações e descobertas sofressem um grande atraso, prejudicando enormemente a descoberta de novas terras, o comércio e, consequentemente,  o desenvolvimento econômico. No ano de 1021 (471 anos antes de Cristovão Colombo), o viking Leif Eriksson liderou uma expedição com 35 homens, chegando à região da Terra Nova, atual Canadá; entre 1405 e 1433 (87 anos ante de Colombo), o chinês Zheng He, com a maior frota do mundo na época, navegou sete vezes para o Sudeste Asiático e Oceano Índico, podendo ter chegado às Américas.

Finalmente, com o início das grandes navegações, no final do século XV, a ideia da Igreja Católica da conversão, ou evangelização dos povos pagãos (afinal, só o Catolicismo era a verdadeira religião) ganhou força; em todos os territórios conquistados, a nova religião era imposta à força; várias culturas ao redor do mundo  tiveram suas crenças, costumes e modos de vida destruídos, todo em nome da propagação da fé da Igreja Católica.

E as mazelas da Igreja Católica não param de vir à tona: escândalos financeiros; escabrosos casos de pedofilia, que durante muito tempo foram vergonhosamente omitidos.

No auge da epidemia da AIDS, a Igreja Católica se manifestou veemente contra o uso de preservativos, a forma mais eficaz de prevenir a doença; o Vaticano manifestou, recentemente, ser contrario a união homossexual; enfim, são muitas as ideias tacanhas e retrógradas desta instituição que se valeu de uma fé, para exercer seu poder perverso e controlador.

O mais inacreditável é como os ensinamentos de Jesus, de paz, de amor, serenidade, igualdade e harmonia entre os homens, se transformaram no que foi e no que é hoje a Igreja Católica; e como ela continua arregimentando tantos seguidores pelo mundo.


segunda-feira, 11 de julho de 2022


 

BUDO X BUSHIDO

 

 Muita gente confunde os conceitos de BUDO, com os do BUSHIDO.

Certa vez, no antigo DOJO em que treinava, surgiu um pequeno grupo de alunos com ares de “intelectuais”, dizendo que se dedicavam ao estudo do BUSHIDO, o código de conduta, não escrito, dos antigos Samurais; a princípio pareceu estranho, um grupo que se dedicava ao estudo deste tema, se matricular em um DOJO de artes marciais. A minha dúvida só se desfez quando um deles, com um ar de grande conhecedor do tema, tentou puxar assunto, me perguntado sobre qual era o BUSHIDO do AIKIDO; aí tive absoluta certeza de que eles não faziam a menor ideia do que estavam falando.

O BUDO é um conceito oriental muito antigo; muitos interpretam o termo “BU” com o significado de guerra ou marcialidade; já o termo “DO”, significa “caminho” e está presente em várias artes marciais, tais como AIKIDO, JUDO, KENDO, etc.; então “BUDO” em tradução livre seria “o caminho da marcialidade.”

Na Ásia antiga, o termo “BU” significava “deter o perigo da lâmina que golpeia”.

Mitsug Saotome, em seu livro “ O Aikido e a Harmonia da Natureza” escreve:  “adestrar-se no BUDO é estudar a realidade, a vida e a morte, e buscar a força espiritual necessária com a qual enfrentar essa realidade.”

Eu prefiro entender o conceito do BUDO como sendo um caminho para a busca de um aprimoramento pessoas e espiritual, através da prática de uma arte marcial.

Já para entendermos o BUSHIDO, precisamos entender os Samurais, desde a sua origem; um Samurai não surgiu pronto; no início algum lavrador teve que trocar sua enxada pela espada, a fim de defender seu clã ou povoado de bandidos ou salteadores que infestavam a região. Com o passar do tempo, alguns desses antigos camponeses começaram a se sobressair nos campos de batalha, devido a suas técnicas de luta; eles então fundaram escolas e passaram a ensinar a outros lutadores essas técnicas. Não tardou a surgir a classe dos grandes guerreiros, que eram os Samurais.

No Japão feudal, os Daimiôs (grandes proprietários de terras) passaram a agrupar grandes exércitos de Samurais, utilizando-os em suas batalhas contra clãs vizinhos, lutando pela supremacia de poder. Essa situação perdurou por séculos, com cada Daimiô tentando, através da guerra, tornar-se o Shogun (chefe militar supremo).

Nesta época, cada Samurai sabia exatamente quais eram suas obrigações, como guerreiro e como membro da sociedade, não necessitando nenhum “código de conduta” para isso.

Ocorre que no ano de 1.600, na famosa batalha de Sekigahara, Tokugawa Ieyasu, venceu e tornou-se um poderoso Shogun, instaurando no Japão uma paz entre os vários clãs, que perdurou por cerca de 250 anos.

Embora fizessem parte da elite da sociedade, sem as guerras os Samurais praticamente perderam suas funções; muitos assumiram funções administrativas, muitos caíram no alcoolismo, mas não deixaram de ser Samurais.

Ao longo das gerações, sem guerras a serem travadas, os princípios e valores dos Guerreiros Samurais começaram a se diluir, a perder o sentido; para evitar que toda esta tradição se perdesse permanentemente, foi criado o BUSHIDO, um Código de Conduta, que era passado oralmente, de geração em geração, a fim de manter vivas estas tradições.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O QUE VALE MAIS? FORÇA OU INTELIGÊNCIA?



AQUILES e ODISSEU

Segundo a Ilíada, a lenda de Homero que narra a guerra de Troia, Aquiles foi o maior guerreiro que lutou pelos gregos; seus feitos bélicos e suas conquista nos campos de batalha foram memoráveis; nos combates era invencível.

Aquiles era o filho da nereida Tétis e de Peleu, rei dos mirmidões. Tétis era uma deidade, filha de Nereu, um velho deus do mar.

Quando Aquiles nasceu, Tétis o mergulhou no místico rio Estige, que separava o mundo dos vivos do mundo subterrâneo dos mortos, do deus Hades, a fim de torná-lo invulnerável; contudo, ao fazê-lo, segurou-o pelos calcanhares, sendo estas as únicas partes que  não tocaram as água do rio, ficando vulneráveis (daí vem a expressão “calcanhar de Aquiles”, para designar um ponto de fragilidade).

Até as armas de Aquiles eram especiais; a armadura, o escudo e a lança, haviam sido forjadas pelo próprio Hefesto, deus ferreiro do Olimpo, sendo, por este motivo, invejadas por todos.
Apesar de tudo, Aquiles não conseguiu conquistar a cidade de Troia, sendo morto por Páris, com uma flecha envenenada que atingiu seu calcanhar.

Após sua morte, Agamenon, Rei de Micenas, que liderava os gregos na guerra, prometeu que entregaria as armas de Aquiles ao guerreiro que fosse mais temido pelos inimigos; para tanto, mandou que seus espiões sondassem os soldados de Troia e interrogou também os prisioneiros.

             Todos foram unânimes em afirmar que o que mais eles temiam eram a inteligência e a astúcia de Odisseu (também conhecido como Ulisses).

Odisseu não era um grande guerreiro; nunca se destacou nos campos e batalha; mas pôs fim a uma guerra que já durava 10 anos.

         Foi dele a ideia da construção de um cavalo de madeira, dentro do qual se esconderam guerreiros gregos; ele foi deixado na praia, como presente aos troianos, que o levaram para dentro da cidade. À noite, os guerreiros saíram de dentro do cavalo e abriram os portões da cidade, para a entrada dos soldados gregos, que derrotaram Troia.

             Assim, a lenda mostra que não foi o maior dos guerreiros que venceu a guerra de Troia, mas sim o mais inteligente e astuto. É um belo exemplo de como uso da inteligência pode ser muito melhor e mais eficiente do que o da força.

sábado, 17 de agosto de 2019

O CANTO DAS SEREIAS



O canto das Sereias

– Venha! Venha a nós! Odisseu tão glorioso! Honra dos aqueus! Pare teu barco: Venha escutar nossa voz! Jamais um negro barco dobrou nosso cabo sem ouvir o doce ar que sai de nossos lábios... 
(A Odisséia - Homero).

Assim cantavam as sereias, em algum lugar do Mar Tirreno, cercado de rochas e recifes, entre a ilha de Capri e a costa da Itália, de localização variável de acordo com a versão do mito.

Depois da guerra de Troia, Odisseu (também conhecido como Ulisses), em sua viagem de volta para casa, em Ítaca, teve que parar na ilha de  Eana, habitada pela feiticeira Circe, onde permaneceu por algum tempo.

Antes de partir para continuar sua viagem, Circe lhe alertou sobre os perigos que ele encontraria ao passar pela ilha das sereias.

As sereias, seres mitológicos, metade peixe, metade belas mulheres, habitavam pequenas ilhas rochosas do mar Mediterrâneo. Eram tão lindas e cantavam com tanta doçura que atraíam os tripulantes dos navios que passavam por ali; elas tinham, na verdade, o poder de enfeitiçar, com seu doce e maravilhoso canto, todos que o ouvissem, de modo que os infortunados marinheiros, ao fazê-lo, não conseguiam resistir e se atiravam ao mar, onde elas os afogavam.

Odisseu, o mais astuto e inteligente guerreiro que lutou contra Tróia, era também dotado de extrema curiosidade, querendo a qualquer custo ouvir o canto das sereias.

Depois de muito pensar, decidiu encher os ouvidos de seus remadores com cera, para que não fossem enfeitiçados pelo canto e ordenou que o amarrassem fortemente a um mastro, para ouvi-lo em segurança. Odisseu enlouqueceu ao ouvir o canto das sereias, mas como estava preso, sobreviveu à maravilhosa experiência.

Assim contava a lenda de Homero na Grécia antiga.

É uma bela história e talvez dela possamos tirar muitas e preciosas lições.

Por que os homens se atiravam para a morte, depois de ouvir tal canto? Queriam morrer? Certamente que não!

Na verdade ao ouvir tão doce canto, vindo de tão belas mulheres, com certeza os marinheiros deviam criar uma expectativa de que, ao se lançarem a elas, teriam prazeres inimagináveis.

Se pensarmos bem, todos nós temos uma tendência de criar expectativas a respeito de muitas coisas, no mais das vezes nos decepcionando amargamente quando elas não acontecem.

Vamos imaginar um exemplo:

Vamos supor que, em seu emprego, onde está há bastante tempo, você é muito dedicado e desenvolve um excelente trabalho. Um dia, ouve a notícia de que alguém vai ser promovido na empresa; um cargo melhor, maiores salários, etc.

Você logo imagina:

- Hum, talvez seja eu; afinal sou bem antigo na empresa e muito dedicado.

Em seguida começa a imaginar como seria bom ocupar aquele novo cargo; mais status na empresa, o conforto que lhe traria um salário mais alto, o orgulho que sentiria de si mesmo, etc.

Com o passar dos dias, a ideia começa a ganhar corpo; você não consegue parar de pensar no assunto e, cada vez mais, passa a acreditar que só pode ser você; sua expectativa começa a aumenta muito.

Um belo dia você recebe, com surpresa, a notícia que um novato, não tão esforçado, é promovido para o tão sonhado cargo.

A notícia, fulminante, cai como um raio; de repente todos os seus planos desabam, seu sonhos se evaporam.

Você se decepciona profundamente, fica desolado, desmotivado para o trabalho; passa a se dedicar e a desempenhar cada vez menos; começa a faltar no trabalho, até que acaba por ser demitido.

Você criou uma grande expectativa sobre algo que, no final, nunca aconteceu.

E por quem deveria acontecer? A expectativa nada mais é do que o fruto de nossa imaginação; o modo como gostaríamos que as coisas acontecessem; mas no fim, a realidade é sempre outra.

Eu costumo dizer que, neste caso, ouvimos “o canto das sereias”; criamos uma grande expectativa em cima de um sonho, uma ilusão, que tinha pouquíssima chance de se concretizar; que no final acabou por nos causar um grande sofrimento, podendo até mesmo nos destruir.

Então para que ouvir o “canto das sereias”?

Se você espera ou deseja alguma coisa, não crie falsas expectativas (até porque as verdadeiras não existem), tenha paciência, espere pelos acontecimentos e veja o que realmente acontece; se algo de bom ou de ruim.

De alguma forma, como na lenda, “encha os ouvidos de cera”, ou então, esteja fortemente preso à única coisa realmente segura, à realidade.

Agindo desta forma, podemos nos poupar de uma grande e certeira desilusão.

Pense nisso.

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

BELEZA E FEIURA; POR QUE UMA É TÃO RARA?




A SELEÇÃO NATURAL DA FEIURA


Alguma vez você já se perguntou por que há tanta mulher feia por aí? Ou, pelo menos, o porquê da esmagadora maioria das mulheres serem feias?
Uma mulher bonita é uma exceção à regra; tanto que as que a são, se destacam com facilidade.
Em minha opinião, a causa disso está ligada à religião; mais especificamente a duas: à Católica e à Protestante, de Martinho Lutero. E tudo por conta de uma das passagens mais negras da história: a Inquisição.
Tudo começou em 1022, quando foi criado o primeiro "Tribunal Público contra a Heresia", em Orleans (França); para perseguir e combater a heresia dos Cátaros (um grupo de dissidentes do próprio cristianismo, que a igreja Católica Romana considerava uma ameaça). Em seguida, em 1249 implantou-se, no Reino de Aragão, a primeira Inquisição oficial, que mais tarde, a partir de 1478, tornar-se-ia a famigerada “Inquisição Espanhola”, que durou até 1834. Foram mais de 800 anos de perseguições religiosas. A princípio, tanto a Inquisição Espanhola, quanto a Portuguesa (que se instalou poucos anos depois) visavam a preservação de sua fé, eliminando todos que seguissem qualquer outra religião (principalmente judeus e muçulmanos); homens e mulheres indistintamente.
Porém, a partir de 1450, o imaginário popular, aliado à exacerbada moral e obscuros dogmas da Igreja Católica, começaram a enxergar a maioria das mulheres como bruxas. Para piorar, nos países dominados pelo Protestantismo, principalmente os de origem germânica, as bruxas foram logo identificadas como seguidoras do demônio, cuja função era disseminar o mal pela Terra. Tal crença logo se propagou por toda a Europa, atingindo seu ápice entre os anos de 1450 a 1750.
Qualquer catástrofe natural ou peste era logo atribuída à ação delas, provocando a condenação à morte na fogueira, de muitas. O julgamento era sumário e a admissão de culpa sempre obtida mediante terríveis torturas.
A simples preparação de unguentos com plantas medicinais, por curandeiras, que antes serviam para ajudar as pessoas, passou a ser viso como ato de bruxaria. Se por um supremo azar uma parteira perdesse uma criança durante o parto, era, imediatamente, acusada de tê-la entregue ao diabo, julgada e queimada.
A coisa evoluiu e acabou tomando proporções de uma grande histeria coletiva; qualquer mulher atraente, cuja inocente beleza acabasse por despertar o desejo de algum homem, era imediatamente acusada de ser uma bruxa, seguidora do demônio, que tentava, com seus encantos, enfeitiçá-lo e levá-lo à perdição; a condenação à fogueira era certa.
Com isso, em quase toda a Europa a porcentagem de mulheres queimadas excedeu 75% dos casos. Em algumas localidades, como o condado de Namur (atual Bélgica), elas responderam por 90% das execuções.
Escritos da época registram fatos quase inacreditáveis: na diocese italiana de Como, teriam ocorrido 1.000 execuções em um ano. Em Toulouse, na França, fala-se de 400 cremações em um único dia. Ao todo, estima-se que 100.000 processos foram instaurados pelo continente afora e pelo menos 60.000 vidas se perderam em meio às chamas.(1)
 Com a sistemática eliminação das mulheres bonitas, cuja beleza, pelos conceitos da época, nada mais era do que uma artimanha do demônio para levar os homens à perdição, criou-se uma espécie de “seleção natural” às avessas, onde o gene da feiura parece ter se tornado dominante e o da beleza, recessivo.
Mulheres feias, naturalmente, tinham maior probabilidade de gerar descendentes igualmente feias. As que, por desventura, nascessem com o defeito da beleza, provavelmente não sobreviviam o suficiente para deixar descendentes. E assim, a feiura feminina se disseminou, tornando-se praticamente um padrão.
Atualmente, a beleza não é mais castigada, mas o estrago já estava feito (muito embora eu acredite que algumas bruxas ainda andem por aí, enfeitiçando-nos com seus encantos).
A menos de lugares específicos, que conseguem reuni-las, como locais badalados, agências de modelos e lugares afins, deparar-se com uma mulher realmente bela é raro. Quem não acredita, dê uma volta pelo Largo da Batata, em Pinheiros, ou pelo Largo 13, em Santo Amaro; ou então tome algum ônibus urbano. As evidências falam por si.


1-      Dados obtidos de matéria da Revista Superinteressante.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Em sua profissão, você busca a colaboração de pessoas mais experientes, ou se sente ameaçado por elas?



O REI E O SÁBIO

Em todas as civilizações antigas, seja das tribos nômades de caçadores/coletores aos reinos da idade média, o chefe, o rei, ou o monarca, era quase sempre associado à figura de um sábio ou mago (alguém que buscava soluções por meio do autoconhecimento). Arthur e Merlin são os estereótipos mais conhecidos desta ligação1; mas mesmo em povos mais primitivos, a figura de um xamã era sempre associada ao conhecimento e sabedoria, a quem o chefe do grupo recorria em situações de crise.

Ao sábio cabia, usando de seus conhecimentos, inteligência e experiência, aconselhar o rei em suas decisões mais difíceis, para que estas resultassem sempre em êxito, garantindo o prestígio do rei e a segurança do reino, que acabava por resolver os conflitos, obtendo a paz.

Em épocas mais modernas, os reis, ou governantes, começaram a deixar de lado a figura do sábio, passando a ser assessorados por outras pessoas e tentando desempenhar, eles próprios, o papel de combatente, protetor, ou disciplinador moral.

Um exemplo bem atual disso são os Estados Unidos, onde o presidente é assistido por um general ou almirante, não havendo mais lugar para a sabedoria de um pacificador.

Muito deve ter contribuído para este descrédito em conselheiros e sábios, a figura de Grigoriy Yefimovich Rasputin, que lá pelos idos de 1900, ganhou fama junto à Corte Russa, aproximando-se da família do Czar Nicolau II e sua esposa, Alexandra Feodorovna; primeiro como curandeiro, depois como conselheiro pessoal da Czarina, se valendo desse privilégio para obter proveitos pessoais inimagináveis, acabando, por este motivo, por ser assassinado pela nobreza russa.

Com o tempo, esta prática de ser assessorado por alguém com muito conhecimento e sabedoria, deixou de ser restrito somente a reis e governantes. Toda e qualquer pessoa que exercesse uma função importante, poderia se beneficiar, tendo ao seu lado alguém com muito conhecimento e experiência. O poder, aliado à sabedoria, tornar-se-ia uma força invencível.

O que se viu, porém, na maioria dos casos, foi exatamente o oposto: de repente, por medo, insegurança, ou não sei mais o que, a maioria dos que assumiam uma função de comando, fossem eles Diretores, Chefes, Treinadores, Instrutores, etc., passavam a se isolar, preferindo fazer um trabalho de qualidade muito inferior, a correrem o risco de serem ameaçados por uma pessoa de grande sabedoria, que poderia vir a ofuscar os seus feitos.

É mais ou menos como um ditado de Arthur Schopenhauser: Os medíocres, assim como as luzes, necessitam da escuridão para brilhar”.

A sabedoria passou de uma poderosa aliada, a uma grande ameaça. A ideia passou a ser: se ele sabe mais do que eu, ele pode vir a tomar o meu lugar. O melhor e mais seguro é mantê-lo afastado.

De repente, o sábio passou a ser visto como um perigoso vilão; uma figura a ser evitada a qualquer custo.

Com isso, profissionais que até contavam com um bom potencial, por pura insegurança, começaram a se aliar e ser assessorados por pessoas medíocres, passando, logicamente, a obter resultados igualmente medíocres, nunca conseguindo atingir as metas almejadas.

A continuar esta mentalidade, não tardará o tempo em que esses novos “bruxos” voltarão a ser perseguidos e condenados à fogueira, pelo risco que oferecem, como já ocorreu em épocas passadas; que o diga Galileu Galilei.

Acha exagero? Então basta se lembrar de Pol Pot, que liderou o Khmer Vermelho, governo comunista instalado no Camboja que, a partir de 1975, matou mais de 7 milhões de cambojanos. Foi considerado um dos maiores genocídio do século XX.

Pol Pot rejeitava os “ideais capitalistas” e concluiu que apenas as crianças ainda não haviam sido contaminadas por eles; desta forma, passou a eliminar toda e qualquer pessoa que detivesse um mínimo de cultura, restando apenas as crianças e os camponeses mais simplórios.

Com isso, passo, cada vez mais, a entender o sentido de uma frase, de autoria de Edmund Burke, escrita na entrada do famigerado campo de concentração de Auschwitz: “Quem não conhece a história está condenado a repetir seus erros”.




1- Philip Dunn

sábado, 28 de janeiro de 2017

A BUSCA PELA IMORTALIDADE



A IMORTALIDADE

A imortalidade, desde os tempos mais remotos, sempre foi uma coisa que seduziu a imaginação dos seres humanos; não só pelos grandes e poderosos, que sonhavam em se perpetuar no comando de seus impérios, mas também pelas pessoas comuns, que simplesmente temiam a morte.

De tudo foi tentado, para alcançá-la: de elixires milagrosos, na antiguidade, que muitas vezes acabavam por matar precocemente quem os tomava; até a busca, pelos alquimistas, da pedra filosofal, já na idade média. Como nada nunca funcionou, o homem se voltou ao seu lado místico.

Para os Gregos, com sua mitologia, a morte era apenas uma passagem de uma vida, vivida no mundo superior, para outra, vivida eternamente no mundo de Hades, o Deus do mundo subterrâneo.

Já para os Egípcios, após a morte neste mundo, os corpos dos ricos e poderosos eram mumificados, para que ficassem preservados e pudessem seguir para uma outra vida, acompanhados de suas riquezas e servos, que também eram mortos e sepultados juntos, para continuar a servi-los nesta nova vida.

Algumas religiões se referiam a esta vida como um estágio passageiro, prometendo a vida eterna depois da morte, caso fossem seguidos, rigidamente, os dogmas e doutrinas impostos por elas.

E os exemplos foram muitos, de seitas ou religiões que prometiam, de alguma forma, a possibilidade de uma vida eterna após a morte.

O problema era que, em todos os caminhos que levavam à vida eterna, havia a passagem obrigatória e desagradável pela experiência da morte; o que não agradava a ninguém.

Talvez por este motivo, Ponce de Leon, lá pelos idos de 1500, seguindo os passos de Hernán Cortés, que se empenhava na conquista do povo Asteca, tenha resolvido montar uma expedição e sair em busca de uma lenda, sobre a qual havia ouvido falar, através dos nativos: a Fonte da Juventude. Quem bebesse de suas águas, voltaria a ser jovem novamente, não necessitando mais morrer para alcançar a vida eterna; quando recomeçasse a envelhecer, bastava beber mais alguns goles, para voltar a ser jovem.

Ponce de Leon nunca mais voltou de sua expedição; talvez tenha encontrado sua tão sonhada fonte da juventude, mas, imprudente, pode ter bebido de sua água em demasia, rejuvenescendo até o estágio fetal, onde a vida não é possível fora do útero materno, vindo a morrer em função disso.
Brincadeiras a parte, a verdade é que ninguém nunca alcançou, de fato, a tão sonhada imortalidade; pelo menos não da forma como todos sonhavam, de viver para sempre.

Sempre achei ridículas essas infindáveis buscas por uma vida eterna; devemos aceitar, como inevitável, a finitude da vida; tudo o que é vivo, é também mortal.

Certo dia, porém, um fato ocorrido, me fez começar a pensar a respeito do que poderia vir a ser, na realidade, a tão sonhada imortalidade. Tudo por causa de um trecho da Ilíada, obra de Homero, que narra a lendária Guerra de Troia.

Em uma passagem da narrativa, Aquiles, o maior de todos os guerreiros gregos, filho de Tétis, uma ninfa do mar, após ser convocado por Agamenon para lutar contra Troia, foi se aconselhar com a mãe, sobre que decisão tomar.

Com a sabedoria e a serenidade de uma deidade, Tétis falou a Aquiles que se ele não fosse para a guerra, ele se casaria com uma linda mulher, teria filhos com ela e seria feliz; seu nome seria lembrado por seus filhos e netos, mas depois de poucas gerações, ele seria completamente esquecido; no entanto, se fosse para Troia, jamais retornaria, mas seu nome seria comentado e lembrado para sempre.

Passei um bom tempo pensando a respeito; talvez estivesse aí a verdadeira imortalidade; não no fato de se viver eternamente, o que sabemos ser impossível, mas no fato de ter seu nome imortalizado por algum feito extraordinário.

Comecei a lembrar das pessoas que tiveram seus nomes imortalizados: Albert Einstein, por sua revolucionária teoria da relatividade; Alexander Fleming, pela descoberta da penicilina, e tantos outros que se imortalizaram pelos feitos notáveis que realizaram em prol da humanidade.

Porém, não só feitos gloriosos e louváveis tornaram pessoas imortais; estão aí Hitler, Stalin, Pol Pot, etc., para provar o contrário.

Seguindo este raciocínio e me aproximando de nossa realidade, lembrei que em nossa arte marcial, o Aikido, também podemos dizer que temos pessoas imortais; Morihei Ueshiba, o fundador, sem dúvida nenhuma, ainda vive em cada uma das técnicas que criou, quando as aplicamos em nossos treinos.

Kawai Sensei, meu mestre, que trouxe o Aikido para o Brasil, também vive, sempre que um dos conceitos, por ele ensinado, é utilizado em nossas vidas; tornou-se um imortal e será para sempre lembrado, pelo magnífico trabalho que realizou.


Os pensamentos acabaram convergindo e chegando a mim, ou mais precisamente às pessoas comuns, como eu; passaremos indiferentes pela vida, ou deixaremos, de alguma forma, nossa marca? Acho que esta resposta, apenas pelo modo como vivemos a vida, o futuro dirá.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

AS VIRTUDES E OS MALEFÍCIOS CAUSADOS POR UMA MESMA COISA



KATSUJINKEN

Conta a lenda, que Masamune e Murasame eram dois famosos ferreiros, forjadores de espadas, que viveram no século XIV.

Murasame tinha um caráter violento e era inquieto; tinha uma reputação péssima por fabricar "espadas terríveis" com as quais eram travados combates sangrentos, que resultavam na morte dos combatentes. Suas armas, sedentas por sangue rapidamente ganharam fama de serem maléficas.

Ao contrário dele, Masamune era um forjador sério de grande serenidade e praticava um ritual de purificação para forjar suas espadas. Elas eram consideradas as melhores do país.

Um homem querendo averiguar as diferenças entre as espadas,  introduziu, numa corrente de água, uma espada de Murasame e, acima dela, soltou, na água, algumas folhas; cada folha que passava pela espada era cortada em duas.

Em seguida introduziu uma espada de Masamune e repetiu o procedimento. As folhas, que desciam a corrente, quando chegavam ao gume da espada, como que por encanto o contornavam e seguia rio abaixo, intactas.

A espada de Murasama, tinha o poder de cortar e destruir, a de Masamune tinha um poder também, mas não de destruição.

Logicamente a lenda não é verdadeira.

A espada japonesa foi, na verdade, inventada por Masamune, por volta do ano de 1270, quando os Mongóis tentavam, pela primeira vez, invadir o Japão. Até então, os Samurais travavam entre si, combates ritualísticos, montados a cavalo e usando uma espada longa, onde prevalecia a honra e o respeito. Já os Mongóis eram guerreiros ferozes, que não conheciam nem respeito, nem honra, guerreando de forma convencional e violenta. Para enfrentar tais oponentes, Masamune desenvolveu uma espada mais curta, porém afiadíssima, que pudesse ser usada por um Samurai em pé, e cortar as armaduras Mongóis, feitas de couro – a Kataná.

Da lenda, porém, nasceram os conceitos de SATSUJINKEN e KATSUJINKEN; o primeiro, representa o combate sangrento, onde a espadada é destrutiva e tem o espírito da morte; já no segundo, a espada é construtiva e tem o espírito da vida; representa o combate onde a vida é preservada.

KATSUJINKEN, em síntese, significa vencer um combate de espada, sem ferir o oponente.

Simbolicamente, os conceitos representam a ideia de que, uma mesma coisa pode causar efeitos muito diferentes, dependendo de como é usada; não só espadas, mas uma gama infinita de coisas.
A água límpida e cristalina, que mata nossa sede e é a base da vida na Terra, pode facilmente, matar alguém afogado.

A informática, com seus múltiplos aplicativos, pode ser uma grande ajuda para a maioria das pessoas, mas seu uso excessivo pode causar dependência e alienar as pessoas, prejudicando vários aspectos de suas vidas.

As religiões, que trazem alento e conforto para muitas pessoas,    foram a causa das mais sangrentas guerras da história.

Como sempre, a vida e o Aikido se confundem, sendo, as vezes, difícil separar um do outro.

Eu não conheço melhor exemplo, para demonstrar estes conceitos, do que o Aikido. Com ele, podemos tanto ferir um oponente, como simplesmente interromper um conflito, não causando, ao agressor, qualquer tipo de dano.

O melhor exemplo disso, está nas palavras de Ô Sensei, o Fundador, quando se referia aos princípios básicos de sua arte marcial: “... é com base nesses princípios que posso, matar com um só golpe, ou, simplesmente, interromper o conflito e exigir a paz...”.


Assim, com sabedoria e consciência, cada vez que for utilizar alguma coisa, reflita sobre qual a melhor maneira de fazê-lo.